- Modelos e Estrutura da Criminalidade Organizada
- Modelo Hierárquico de Grupos Criminosos Organizados
- Modelo Local, Cultural da Criminalidade Organizada
- Modelo Empresarial ou Negocial de Criminalidade Organizada
- Focando-se nos Grupos versus nas Atividades
- Novas Formas de Criminalidade Organizada: Estruturas em Rede
- Resumo
- Referências bibliográficas
Publicado em maio de 2018
Este módulo é um recurso para professores
Modelo hierárquico de grupos criminosos organizados
O modelo hierárquico define a criminalidade organizada como um grupo de intervenientes interdependentes em que há uma clara estratificação entre os seus participantes que permite distinguir os líderes dos outros membros da empresa criminosa. Esta estrutura tem sido também designada por modelo “burocrático”, “corporativo”, ou “organizacional” da criminalidade organizada. Esta descrição de grupos criminosos organizados encara-os como estruturas de tipo-governativo, ou de tipo-militar, em que as atividades ilegais são organizadas e aprovadas pelos superiores, e levadas a cabo por operacionais de escalão inferior que são parte do grupo (Albanese, 2015; von Lampe. 2016)
Relatos anteriores de informantes descrevem os grupos mafiosos nos Estados Unidos da América e em Itália, constituídos por chefes, tenentes e soldados, que controlam os territórios e geram empresas criminosas rentáveis com esses grupos (“famílias”). Estes relatos revelam a essência do modelo hierárquico da criminalidade organizada, que opera sob uma estrutura clara, estratificada e organizada. (Anastasia, 2004; Demaris, 1980; Maas, 1968; Shawcross and Young, 1987; Teresa and Renner, 1973; U.S. Senate; 1965).
A abordagem hierárquica à criminalidade organizada foi adotada em relatórios oficiais e foi usada para caracterizar todas as formas de criminalidade organizada para além das organizações de tipo-máfia. Esta caracterização influenciou a maneira como a criminalidade organizada era percecionada, e como se lhe respondia pelo mundo. (Albanese, 1988; Di Ronco and Lavorgna, 2016; Standing, 2003).
Ao longo dos anos, governos, organizações não governamentais e internacionais, e a academia levaram a cabo inúmeros estudos sobre os modelos dos grupos criminosos organizados. Os estudos sugerem que o modelo hierárquico caracteriza alguns grupos criminosos organizados, mas há muitos outros grupos que se organizam não seguindo este modelo. (Lombardo, 1994; Lupo, 2015; Rostami, Mondani, Liljeros, Edling, 2017) Os estudos mostraram que os grupos mafiosos existentes altamente organizados e hierarquizados existem num dos extremos do espectro dos grupos criminosos organizados, mas “até esse extremo, identifica-se uma ampla variedade de possibilidades híbridas.” (Sergi, 2017; Smith, 1980) O modelo hierárquico é de uma enorme mais-valia para descrever como alguns grupos se organizam e operam, respeitando posições, territórios e nível de importância em se ser identificado como “integrante” do grupo.
Um resultado infeliz da adesão generalizada ao modelo hierárquico da criminalidade organizada foi a suposição de que uma acusação bem-sucedida aos chefes dos grupos criminosos organizados, acabaria por eliminar os próprios grupos criminosos organizados, fazendo colapsar as famílias criminosas. No entanto, muitas acusações bem sucedidas relativas à máfia até ao momento, revelaram que a procura contínua de bens e serviços ilícitos conduziram à emergência de novos líderes, e de novas empresas criminosas para explorarem esses mercados ilegais rentáveis.