Este módulo é um recurso para professores 

 

Exercícios

 

Esta secção contém sugestões de exercícios educacionais em sala de aula. Também se sugere, numa secção separada, uma tarefa para após a aula, para avaliar a compreensão do Módulo por parte dos alunos.

Os exercícios desta seção são mais apropriados para classes com o máximo de 50 alunos, em que eles podem facilmente ser organizados em pequenos grupos, nos quais discutirão casos ou realizarão atividades, antes que os representantes dos grupos deem feedbacks para toda a classe. Apesar de ser possível ter a mesma estrutura de pequenos grupos em turmas grandes, com mais de cem alunos, é mais desafiador e o professor pode querer adaptar técnicas de facilitação, tanto para garantir tempo suficiente às discussões em grupo como para fornecer feedback para a classe toda. O caminho mais fácil para lidar com os requisitos de discussão para pequenos grupos em uma sala grande, é pedir aos alunos que discutam os problemas com os quatro ou cinco alunos sentados perto deles. Considerando as limitações de tempo, nem todos os grupos poderão dar feedback em cada exercício. É recomendado ao professor que faça seleções aleatória, tentando garantir que todos os grupos tenham a oportunidade de fazer comentários, ao menos uma vez durante a seção. Se o tempo permitir, o professor pode facilitar a discussão em plenário, após os grupos darem seus feedbacks.

Todos os exercícios nesta seção são apropriados para estudantes de graduação e de pós-graduação. Contudo, tendo em vista o conhecimento prévio dos alunos e que a exposição deles a esses temas varia amplamente, as decisões sobre a adequação dos exercícios deve ser baseada no contexto educacional e social em questão. O professor é encorajado a relatar e conectar cada exercício com os problemas chave do módulo.

EXERCÍCIO 1: Desenvolvendo uma cultura justa e sem culpa em uma organização

Apresente o seguinte cenário aos alunos: Você está em um grupo de consultores que foi enviado para uma autoridade aduaneira do país X. Essa autoridade é uma organização pública que recentemente teve um grande escândalo. A fim de evitar problemas futuros, a autoridade aduaneira procura desenvolver uma cultura livre de culpa.

Em um pequeno grupo, discuta as questões que seguem abaixo:

  • O que são os princípios básicos da cultura livre de culpa?
  • Quais passos você recomendaria para desenvolver uma cultura livre de culpa na autoridade aduaneira?
  • Como a cultura livre de culpa pode ser implementada na prática?
  • Como a autoridade aduaneira pode aumentar a conscientização de seus funcionários sobre uma cultura livre de culpa? 

Diretrizes do professor

Os estudantes devem discutir as questões em grupos (15 minutos). Os representantes dos grupos devem apresentar as conclusões do grupo ao restante da sala (5 minutos cada representante). Sequencialmente, o processor facilita um debate aberto a discussões sobre os problemas levantados nos diferentes grupos ou um debate aprofundado sobre se a cultura livre de culpa teria valor na universidade (15-20 minutos). 

EXERCÍCIO 2: Um conto de duas histórias

Esse exercício foi adaptado da ferramenta Giving Voice to Values (GVV) (Dar Voz aos Valores), a qual é explicada neste pequeno vídeo (4:23 minutos), para um curso oferecido pela Universidade da Virgínia. O exercício possui três partes. Na primeira, os estudantes refletem, por um tempo, sobre quando expressam os seus valores em situações de conflito de valores; na segunda parte, eles refletem, por um tempo, sobre quando eles não o fizeram; na terceira parte, os alunos discutem, em pequenos grupos, com o professor facilitando a discussão da classe. As respostas às perguntas das duas primeiras etapas do exercício devem ser preparadas antes da discussão em grupo, uma vez que podem ser difíceis de relembrar no momento.

Parte 1: “Reflexão de um exemplo positivo”. Pede-se aos alunos que relembrem um momento, no trabalho ou na universidade, uma situação social ou familiar, quando seus valores conflitaram com o que lhes foi pedido ou se sentiram pressionados a fazer e falaram ou agiram para resolver o conflito. Os estudantes são convidados a considerar as seguintes quatro perguntas, devendo anotar seus pensamentos em respostas breves:

  • O que você fez e qual foi o impacto?
  • O que te motivou a falar e agir?
  • Quão satisfeito você está com a sua resposta? Como você gostaria de ter respondido? (Essa pergunta não é sobre recusar ou defender ações passadas, mas sim sobre imaginar seu cenário ideal).
  • O que tornou mais fácil para você falar/agir (os “Facilitadores”) e o que tornou mais difícil (os “Dificultadores”)? Essas coisas estavam sobre seu próprio controle? Elas estavam sob o controle dos outros?

Parte 2: “Reflexão sobre um exemplo negativo”. É pedido que os estudantes se lembrem de um momento no trabalho ou na faculdade, em uma situação familiar ou social, na qual os seus valores conflitaram com o que lhes foi pedido ou em que se sentiram pressionados a agir e não expressaram seu incômodo ou agiram para resolver o conflito. Os alunos são convidados a considerar as seguintes quatro questões, devendo anotar os seus pensamentos em respostas breves:

  • O que aconteceu?
  • Por que você não manifestou seu incômodo ou agiu? O que teria te motivado a fazer isso?
  • Quão satisfeito você está com sua resposta? Como você gostaria de ter respondido? (Essa pergunta não é sobre recusar ou defender ações passadas, mas sim sobre imaginar o seu cenário ideal).
  • O que tornou mais fácil para você falar/agir (os “Facilitadores”) e o que tornou mais difícil (os “Dificultadores”)? Esses fatores estavam sobre seu próprio controle? Estavam sob o controle dos outros?

O professor pede aos alunos para compartilharem, em pequenos grupos, apenas os seus exemplos positivos e as suas respostas para as questões propostas; após, são convidados a analisar, como o exemplo negativo se diferencia e o que pode ter tornado mais fácil para uma resposta positiva e efetiva, sem compartilhar o exemplo negativo real; finalmente, o professor facilita uma discussão aberta.

Diretrizes do professor

Na vida ou na carreira, as pessoas rotineiramente encontram situações que originam conflitos de valores. Situações nas quais alguém é pressionado a agir de maneira conflitante com os seus próprios valores. Frequentemente, não é fácil alinhar valores e propósitos pessoais com os do seu chefe, colega de trabalho ou empresa, com colegas ou amigos de estudos, ou com a família, amigos e conhecidos da vida em geral. Este exercício foi desenhado para ajudar os alunos a identificar e desenvolver as competências necessárias para atingir esse alinhamento, refletindo sobre experiências prévias, bem e mal sucedidas, efetivamente expressando e praticando os valores. Além disso, se permite que os alunos descubram quais as condições e definições de problemas que os capacitam a agir efetivamente sobre seus valores, e quais tendem a inibir essa ação.

Os professores devem observar que para este exercício o conceito de “conflito de valores” se refere a desacordos que possuem natureza ética.

O professor propõe aos alunos que completem a parte escrita deste exercício antes de chegarem à aula, de forma a que somente as discussões em pequenos grupos ocorram durante a aula. 

EXERCÍCIO 3: Treinamento por pares/colegas/companheiros e o valor do feedback

Este exercício foi adaptado da ferramenta Giving Voice to Values (GVV) (Dar Voz aos Valores) e encontra-se disponível nesse folheto web.

É proposto aos alunos considerarem o seguinte cenário:

A pessoa A recentemente entrou em uma firma de comunicação como consultor jurídico. A pessoa B é gerente e responsável pela aquisição de novos clientes. Um dia, o gerente pede ao consultor jurídico para que ele redija um contrato para um novo cliente e adicione duas cláusulas que deveriam ser inclusas. O consultor jurídico informa que essas cláusulas são vagas e podem criar riscos comerciais ao cliente. O consultor jurídico informa ao gerente, mas este se recusa a ouvir ou discutir a importância do assunto, argumentando que as metas de receitas devem ser atingidas. O consultor jurídico deixa o contrato de lado por alguns dias e decide, então, novamente confrontar o gerente e lhe falar sobre práticas antiéticas. Para tanto, o consultor jurídico fez um guia (script) e preparou uma estratégia sobre como abordar o gerente.

Pede-se aos estudantes que reflitam, individualmente, sobre uma estratégia que o consultor jurídico poderia utilizar para se expressar e em argumentos que poderiam ser usados para isso (10 minutos).

Os alunos formam pequenos grupos. Em cada grupo um estudante assume o papel de consultor jurídico, enquanto os demais alunos atuam como “treinador de pares/colegas”. O estudante designado como consultor jurídico explica aos treinadores a sua estratégia e seus argumentos (10 minutos). Os participantes devem refletir em silêncio sobre a apresentação, de acordo com as seguintes diretrizes. 

Diretrizes de reflexão para treinadores de pares/colegas

Após escutar a resposta de seu colega sobre o conflito de valores, mas também antes de o discutir, permaneça mais um tempo em silêncio e considere as suas respostas para as seguintes questões:

  • Qual é a sua resposta imediata à estratégia e guias (scripts) apresentados pelo seu colega?
  • Quais os pontos fortes dessa resposta?
  • Há alguma pergunta que você queira fazer ao seu colega?
  • Se essa resposta fosse direcionada a você, como reagiria?
  • Há formas de melhorar essa resposta?

Diretrizes de reflexão ao consultor jurídico

Após compartilhar as suas soluções para o conflito de valores em discussão, mas também antes de discuti-lo, permaneça um momento em silêncio e considere as seguintes perguntas:

  • O que você vê como pontos fortes da sua resposta?
  • O que ainda lhe preocupa?
  • O que você acha que lhe ajudaria a responder com maior efetividade? O que você gostaria de perguntar aos seus colegas?

Em pequenos grupos, os alunos devem trabalhar juntos para melhorarem a estratégia e o guia (script) de argumentos apresentados (15 minutos).

Depois, o professor deve facilitar uma discussão aberta com toda a classe, sobre a utilidade/os resultados do treinamento de pares/colegas. As próximas questões devem guiar a discussão: Como os estudantes que interpretaram o consultor jurídico se sentiram com relação às opiniões dos treinadores? Os alunos que representaram os treinadores sentiram que puderam contribuir?

Diretrizes ao professor

O exercício também deve ser seguido com encenação, onde um determinado estudante, como consultor jurídico, aplica a estratégia e se pronuncia contra o gerente, enquanto os demais estudantes atuam como treinadores do colega. Os alunos devem continuar seguindo as diretrizes para reflexão, contudo, a atuação deve apenas acontecer após os treinadores terem tido oportunidade de refinar e melhorar seus feedbacks, trabalhando em pequenos grupos. 

EXERCÍCIO 4: Práticas comerciais éticas

O professor pede aos alunos que imaginem a seguinte situação: Você está trabalhando como assistente de um gerente de uma empresa. Sua empresa está participando de um grande contrato público, com um governo estrangeiro. Após seis meses de preparativos e licitações caras, um funcionário do governo garante a você e ao gerente, por telefone, que você receberá o contrato. Logo antes da assinatura do contrato, alguém do departamento de compras do governo solicita uma "taxa de fechamento" de última hora. Sua empresa precisa desse contrato para atingir a meta de receitas para aquele ano. O gerente decide ir em frente e pagar a taxa de fechamento para obter o contrato. Você percebe que a sua empresa não recebe um recibo do pagamento efetuado. Você decide verificar as disposições do concurso, mas não encontra a menção a uma taxa de fechamento oficial.

A) Você está convencido de que o pagamento viola o código de conduta da sua empresa e de que se trata, realmente, de um ato de corrupção. Você decide ir em frente e confrontar o gerente, mas o gerente se recusa a ouvir ou a discutir o assunto. Que tipo de desculpas ou racionalizações pode oferecer o gerente?

Primeiramente, os alunos são convidados a discutir esta questão em grupos menores. Posteriormente, as racionalizações discutidas nos grupos são apresentadas, para serem debatidas com a classe maior.

B) Solicita-se aos grupos que escolham uma desculpa ou racionalização e tentem combatê-la, desenvolvendo argumentos para provar que a desculpa é inválida. Os alunos são incentivados a usar técnicas de planejamento de ações e de roteiro. Em particular, eles devem ser incentivados a desenvolver os seus argumentos de modo a que estes se relacionem com crenças e valores pessoais, ou com os valores e códigos de ética de suas organizações. Eles também devem considerar qual o método de comunicação escolher (por exemplo, uma conversa formal, informal, escrita ou pessoal).

Dependendo do tempo, o professor pode pedir a alguns grupos que apresentem seus contra-argumentos à racionalização que escolheram.

C) O professor pede aos alunos que façam uma breve encenação em duplas, onde um aluno interpreta o gerente propondo a racionalização e o outro tenta expressar sua crença para contrariar aquela racionalização. Obviamente, esse tipo de encenação só deve ocorrer depois que todo o grupo se engajar na solução ética dos problemas (como acima) e, como também mencionado anteriormente, é extremamente importante envolver os alunos que estão representando o gerente que propuseram a ação antiética, para ajudar a melhorar a abordagem usada, para incentivar a ação ética; isso é essencial, pois o professor não deseja incentivar o ensaio para ações antiéticas e também porque não deseja dar a impressão de que a resposta antiética é tão boa quanto a abordagem mais orientada aos valores.

D) Dependendo do tempo, alguns grupos podem ser escolhidos para realizar as suas interpretações na frente da classe, para os demais alunos.

Diretrizes do professor

Embora a situação do dilema neste exercício se aplique ao contexto de negócios, os professores podem personalizá-la, para se adequar a outros contextos.

O principal objetivo deste exercício é incentivar os alunos a treinar seus "músculos morais" e a desenvolverem as habilidades em termos da abordagem baseada em ação de ética e integridade.

Ao conduzir o exercício, o professor pode recorrer ao artigo Dando voz a valores: Como combater racionalizações racionalmente (Giving Voice to Values: How to Counter Rationalizations Rationally), referenciado na Leitura Essencial deste módulo.

 
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