Este módulo é um recurso para professores 

 

Atividades de tráfico em menor escala

 

Embora os casos de tráfico em larga escala estejam relacionados a situações de conflito armado, a grande maioria das mortes intencionais por armas de fogo ocorre de atividades criminosas em ambientes sem conflito (Global Burden of Violence, 2015). De acordo com pesquisa criminológica realizada pelo UNODC (2015), uma importante fonte de tráfico ilícito de armas de fogo ocorre em pequena escala e envolve métodos pouco sofisticados, como algumas pistolas sendo contrabandeadas através de uma fronteira, geralmente de carro ou de ônibus, com um número pequeno de atores envolvidos.

Um bom exemplo desse tráfico de pequena escala é o comércio de “formigas” dos Estados Unidos para o México, onde milhares de armas são traficadas diariamente através da fronteira EUA-México através da modalidade de comércio de formigas. Embora a maioria seja realizada por indivíduos que traficam quantidades menores, principalmente em carros e ônibus, a maioria das armas acaba nas mãos de grupos de criminalidade organizada e cartéis do narcotráfico no outro lado da fronteira. De fato, de acordo com vários estudos, a maioria das armas recuperadas e identificadas nas cenas de crime mexicanas foram rastreadas a comerciantes de armas nos Estados Unidos (Chappell, 2016; Salcedo- Albarán e Santos, 2017).

Essa situação é, por um lado, causada pela ação de poderosos cartéis de drogas mexicanos que compram drogas dos principais produtores de drogas do hemisfério sul e as distribuem nas ruas dos Estados Unidos. Por outro lado, é causada pela disparidade nos regimes de controle de armas de fogo entre esses dois países vizinhos. No México, por exemplo, o exército é o único vendedor de armas legal e autorizado. Criminosos e pessoas não autorizadas precisam fabricar armas de fogo, comprá-las ilegalmente no mercado negro ou traficá-las diretamente dos Estados Unidos. Em contraste, em 2015 os Estados Unidos contavam com cerca de 8.827 comerciantes de armas licenciados, contabilizados apenas nos estados do sul do Arizona, Texas, Novo México e Califórnia (Garrett, 2015; Salcedo- Albarán e Santos, 2017).

Padrões semelhantes de tráfico de armas de fogo em pequenos números são evidentes nos países dos Balcãs Ocidentais. Dados de vários casos judiciais revelam que o modus operandi dos traficantes locais é o uso de veículos com compartimentos ocultos projetados propositadamente para atravessar sem autorização várias armas de fogo pela fronteira. Por exemplo, no período de agosto a novembro de 2017, um cidadão da Bósnia e Herzegovina viajou três vezes para a Itália usando dois diferentes veículos, e entregou quatro fuzis automáticos para Napoli (Processo No. S12K02516817Ko, 2017). Da mesma forma, em uma operação conjunta entre as autoridades sérvias e agentes policiais da Bósnia, um cidadão da Bósnia e Herzegovina foi preso na Sérvia em 11 de abril de 2010 em posse de dois fuzis “Uzi” automáticos, encontrados em seu carro (Processo No. S12K00383510Ko, 2010). Nos dois casos, o objetivo dos traficantes era obter ganhos materiais de suas atividades com a venda de armas de fogo a membros do mundo criminoso.

Os regimes liberais de controle de armas de fogo que governam a propriedade civil, a posse e a venda de armas de fogo, por um lado, e os regimes rígidos e restritivos de controle de armas de fogo, embora não bem aplicados, por outro lado, podem contribuir com a demanda e o oferta ilícitas dessas armas.

 
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