Este módulo é um recurso para professores
Revisões sistemáticas
As revisões sistemáticas resumem e avaliam as melhores pesquisas disponíveis sobre programas e intervenções específicas (Campbell Collaboration, 2018). Os resultados de vários estudos de elevada qualidade são sintetizados para produzir a melhor prova possível. Os resumos abaixo facultam uma indicação dos tipos de revisões sistemáticas de crimes e justiça produzidas pela Campbell Collaboration. Estão disponíveis no site -website revisões adicionais.
A eficácia da vigilância de bairro
Autores: Trevor Bennett, David Farrington, Katy Holloway
Data da publicação: 31 dezembro 2008
Enquadramento: O conceito de “Vigilância de Bairro” surgiu de uma mudança na perceção da sociedade sobre a prevenção da criminalidade. Desde a década de 1980 que as instituições de justiça criminal começaram a pensar de maneira diferente sobre o controlo e a prevenção do crime (Garland, 2001). O crime deixou de ser considerado apenas como sendo da responsabilidade do Estado e das suas instituições, e os cidadãos comuns passaram a deter, também eles, algum nível de responsabilidade para impedir ativamente a ocorrência de crimes e garantir a sua segurança pessoal.
Os esquemas de “Vigilância de Bairro” variam entre as áreas, mas, na sua essência, incentivam os cidadãos a estarem cientes das atividades que ocorrem nos seus próprios bairros. Se os cidadãos se depararem com atividades suspeitas, devem denunciar à polícia. Em teoria, os esquemas de “Vigilância de Bairro” deveriam ter o efeito de reduzir o crime, porque as oportunidades de cometer um crime diminuíram e aumentou a deteção pela polícia.
Objetivos:
- Avaliar a eficácia dos esquemas de vigilância de bairro na redução do crime.
Critérios de seleção/exclusão:
- Os estudos tiveram de incluir um esquema de vigilância, em oposição a alguns dos outros elementos que acompanham os esquemas de vigilância de bairro, como sejam a marcação de propriedades e os inquéritos sobre segurança.
- A metodologia tinha de incluir um teste de controlo aleatório ou um design pré e pós-teste, com uma área de comparação apropriada.
Recolha de Dados e Análise: Uma pesquisa a partir de dados eletrónicos de onze fontes encontrou 19 estudos elegíveis. Os 19 estudos abarcaram 43 esquemas de Vigilância de Bairro e formaram a base da revisão. Foi realizada meta-análise em doze dos estudos elegíveis, que cobriram 18 esquemas de Vigilância de Bairro.
Resultados: A revisão revelou que a maioria dos esquemas da Vigilância de Bairro reduziu efetivamente o crime. A meta-análise mostrou que o odds ratio médio ponderado para todos os estudos foi de 1,19 usando o modelo de efeitos fixos e 1,36 usando o modelo de efeitos aleatórios. O resultado de 1,19 do modelo de efeitos fixos significa que o crime aumentou 19% nas áreas de controlo em comparação com as áreas de tratamento ou diminuiu 16% nas áreas de tratamento em comparação com as áreas de controlo. O resultado de 1,36 do modelo de efeitos aleatórios significa que o crime aumentou 36% nas áreas de controlo em comparação com as áreas de tratamento ou diminuiu 26% nas áreas de tratamento em comparação com as áreas de controlo.
Conclusões: Os autores concluíram que os esquemas de Vigilância de Bairro estavam positivamente associados à redução no crime.
Limitações: Este estudo é propenso a limitações comuns, ou seja, os estudos incluídos foram realizados apenas em países ocidentais, houve falta de estudos com qualidade elevada e houve diferenças significativas entre os estudos. Alguns dos estudos originais também compararam a área de tratamento a uma área de controlo não equivalente. Outros usaram apenas o número absoluto de crimes relatados para medir a eficácia, em vez de referir a taxa de criminalidade a 100.000 habitantes.
Além disso, os estudos utilizados na revisão diferiram muito daqueles incluídos na meta-análise. Os estudos incluídos na meta-análise foram mais propensos a resultar numa correlação positiva entre os esquemas de Vigilância de Bairro e a redução das taxas de criminalidade em comparação com os estudos excluídos. Se todos os estudos elegíveis fossem incluídos na meta-análise, o resultado final teria sido mais modesto.
Efeitos da vigilância por CCTV na criminalidade
Autores: Brandon Welsh, David Farrington
Data da Publicação: 2 dezembro 2008
Enquadramento: As câmaras de vigilância de televisão em circuito fechado (CCTV) são usadas em vários espaços públicos e privados, geralmente com o objetivo de impedir atividades criminosas. No entanto, a implementação e manutenção de extensos sistemas de CCTV representam custos significativos para o Estado e, finalmente, para o contribuinte. Assim, é importante avaliar a eficácia das câmaras de CCTV na prevenção do crime para determinar se a despesa pode ser justificada. As estratégias de prevenção da criminalidade implementadas são as de maior utilidade para a comunidade, atendendo à limitação dos recursos públicos.
Objetivos:
- Avaliar a evidência disponível sobre os efeitos das câmaras de CCTV no crime em espaços públicos.
- Em que configurações as câmaras de CCTV são mais eficazes na prevenção de crimes? Por exemplo: centros da cidade ou parques de estacionamento
- Para que tipo de crimes se verifica que as câmaras de CCTV são mais eficazes na prevenção?
- Sob que condições as câmaras de CCTV operam com mais eficiência na prevenção de crimes?
Critérios de seleção/exclusão:
- Os estudos deveriam ter um modelo de avaliação que envolvesse o antes e o depois na determinação do número de crimes nas áreas de tratamento e controlo.
- Os estudos tinham de ser focados nas intervenções do CCTV no crime; estudos que incluíram mais do que um tipo de intervenção teriam de ter o CCTV como a principal intervenção, para serem elegíveis.
- Cada área deve ter tido um mínimo de 20 incidências criminais antes da intervenção do CCTV.
- Os estudos devem incluir uma área de tratamento e uma área de controlo razoavelmente comparável.
Recolha de Dados e Análise: 44 estudos preencheram os critérios de inclusão no trabalho a desenvolver. 41 dos 44 estudos, foram utilizados na meta-análise. Três estudos foram excluídos da meta-análise por não incluírem os números de crimes e, portanto, o tamanho dos efeitos não podia ser calculado. Os 44 estudos foram categorizados pelo cenário em que foram realizados; a maioria caiu numa das quatro categorias a seguir indicadas: cidades e centros urbanos, transportes públicos, habitação pública social e parques de estacionamento. Dois dos estudos foram realizados em áreas residenciais e um foi realizado num hospital. Além dos objetivos acima, também foram avaliados os benefícios de deslocalização e difusão do crime conseguidos pelo uso das câmaras de CCTV.
Resultados: A vigilância por CCTV tem um efeito moderado nos crimes contra a propriedade pessoal, contudo, o mesmo não se verifica nos crimes violentos. A vigilância por CCTV é mais eficaz na redução de crimes em estacionamentos e na redução de crimes relacionados com veículos em estacionamentos. A evidência também indica que a vigilância de CCTV é mais eficaz no Reino Unido do que em outros países ocidentais. As evidências não indicam se o CCTV produz efeitos de deslocalização ou difusão.
Conclusões: Os autores concluíram que as câmaras de CCTV devem continuar a ser usadas como estratégia de prevenção da criminalidade em espaços públicos, mas usando uma abordagem direcionada, e não a universal, na época do estudo. Também confirmaram a necessidade de avaliações contínuas de elevada qualidade dos esquemas de CCTV, com longos períodos de acompanhamento.
Limitações: Embora os resultados indicassem que o CCTV era mais eficaz no Reino Unido, 36 dos 44 estudos elegíveis foram originalmente conduzidos no Reino Unido. Cinco dos estudos foram realizados nos Estados Unidos, e um estudo foi realizado em cada um dos seguintes países: Canadá, Noruega e Suécia.
A maior limitação do estudo reside no facto de existir uma diferença significativa de casos por grupo. O Reino Unido contribui com 36 estudos elegíveis, enquanto os Estados Unidos contribuem com 5 e Canadá, Noruega e Suécia contribuem com 1 estudo cada. O desequilíbrio entre os grupos fragiliza os resultados do estudo que apontam o CCTV com maior eficácia no Reino Unido, e, face à amostra em estudo esta conclusão deverá ser interpretada com muita cautela.
Além disso, houve seis estudos de CCTV em ambientes de estacionamento e nenhuma das suas intervenções consistiu apenas em câmaras de CCTV. Juntamente com a intervenção do circuito interno de TV, implementaram-se outras medidas de prevenção do crime, tais como: melhor iluminação, guardas de segurança e cercas extras. Assim, amplificaram-se os efeitos positivos da vigilância de CCTV nos estacionamentos. Não é possível determinar a importância de cada componente, na sua contribuição para a redução geral do crime.
Efeitos no crime da melhoria das condições de iluminação pública
Autores: Brandon Welsh, David Farrington
Data da Publicação: 25 setembro 2008
Enquadramento: A iluminação em espaços públicos é um bem público que serve a vários propósitos. Ajuda a segurança de pedestres e de tráfego, além de desempenhar um papel potencial na prevenção do crime. Em teoria, a iluminação da rua pode impedir o crime, aumentando a vigilância ou a visibilidade do que ocorre nos espaços públicos. Isso diminui a oportunidade de possíveis infratores cometerem crimes, porque eles podem ser facilmente vistos por outros. As pessoas também têm uma maior probabilidade de usar espaços públicos bem iluminados, o que aumenta ainda mais a capacidade de observar a atividade que ocorre no espaço público. Outra teoria explica que a melhoria da iluminação pública tem o efeito de reduzir o crime, porque sinaliza o investimento da comunidade numa área, o que leva a um aumento do orgulho da comunidade, coesão e controlo social informal.
Objetivos:
- Avaliar os dados disponíveis sobre os efeitos da melhoria da iluminação pública no crime cometido em espaços públicos.
- Em que locais a melhoria na iluminação pública é mais eficaz na prevenção do crime?
- Para que tipos de crime a melhoria da iluminação pública é mais eficaz em termos de prevenção?
- Em que condições a melhoria na iluminação pública opera com mais eficácia na prevenção do crime?
Critérios de seleção/exclusão:
- Os estudos tinham de ter um modelo de avaliação que incluísse a medição do crime antes e depois, nas áreas objeto de intervenção e controlo.
- Os estudos tiveram de se concentrar na melhoria da iluminação pública ou da iluminação em geral e, para serem elegíveis, os estudos que incluíam mais do que um tipo de intervenção teriam necessariamente de incluir a iluminação como principal foco de intervenção.
- Cada área deve ter tido no mínimo 20 incidências criminais antes da implementação de melhorias na iluminação pública.
- Os estudos devem ter incluído uma área de tratamento e uma área de controlo razoavelmente comparável.
Recolha de Dados e Análise: As pesquisas nas fontes de dados encontraram 32 estudos sobre a melhoria da iluminação pública. Dos 32 estudos, 19 foram excluídos porque não atendiam aos critérios de inclusão e destes 19, 16 foram excluídos por não incluírem uma área de controlo comparável. Assim, restaram 13 estudos que foram incluídos para narrativa e meta-análise.
Resultados: A melhoria da iluminação pública reduz significativamente o crime e, tal como resulta dos estudos sobre a vigilância por CCTV, é mais eficaz na prevenção de crimes no Reino Unido, quando comparando com os Estados Unidos. Observou-se ainda que, em áreas em que a iluminação pública haja sido melhorada, a taxa de redução dos crimes noturnos não foi superior em comparação aos crimes diurnos.
Os resultados da análise narrativa revelaram que quatro dos oito estudos realizados nos Estados Unidos concluíram que a iluminação pública era eficaz na redução do crime. Dois desses estudos mostraram que houve alguma deslocalização do crime e um estudo arguiu ser possível que a deslocalização tivesse ocorrido. Nos cinco estudos realizados no Reino Unido, a iluminação pública foi eficaz na redução do crime.
Os resultados da meta-análise revelaram que a iluminação pública teve um efeito positivo nos níveis de criminalidade, com um efeito relativo ponderado situado nos 1,27 – o que significa que os crimes aumentaram 27% nas áreas de controlo, em comparação com as áreas que foram objeto de intervenção, podendo-se igualmente concluir que os crimes diminuíram em 21 % nas áreas intervencionadas, em comparação com as áreas de controlo.
Conclusões: Os autores concluíram que a melhoria da iluminação pública deve continuar a ser usada como medida de prevenção do crime em espaços públicos.
Limitações: Mais uma vez, os resultados desta revisão sistemática são limitados por fatores semelhantes aos descritos nas revisões acima. Esta revisão incluiu apenas estudos realizados nos Estados Unidos (oito) e no Reino Unido (cinco). Havendo a pretensão de utilizar esta revisão para apoiar a instalação de iluminação pública como medida de prevenção da prática de crimes em outras latitudes, é necessário ter em consideração a questão da generalização destes resultados, pois que respeitam unicamente a países ocidentais desenvolvidos.
Além disso, é necessário realizar mais pesquisas para determinar os mecanismos que determinam que a iluminação pública é ou não eficaz na redução do crime. O facto de, em áreas com iluminação pública melhorada, o crime noturno não diminuir mais do que o crime diurno, indica que o trabalho da comunidade pode ser o mecanismo operante, e não tanto o aumento da visibilidade e vigilância.
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