Este módulo é um recurso para professores
Tópico dois – Tipologias Fundamentais para a Prevenção da Criminalidade
Existem diferentes formas de categorizar os planos de prevenção da criminalidade. Neste módulo, serão apenas consideradas duas abordagens. A primeira, adota uma abordagem de saúde pública e distingue entre prevenção primária, secundária e terciária. A segunda, proposta por Tonry e Farrington (1995), distingue entre aplicação da lei, promoção do desenvolvimento social, comunidade e prevenção situacional.
Modelo de Saúde Pública
O modelo de saúde pública concentra-se na prevenção de problemas de saúde. O bem-estar físico foi associado à implementação de estratégias para incentivar estilos de vida saudáveis, em vez de esperar pela ocorrência de doenças e o seu tratamento posterior. Esta lógica foi aplicada a outras configurações da política social. Os potenciais benefícios económicos do investimento de fundos, de modo antecipado, para economizar em custos futuros são particularmente atraentes para o legislador, inclusive na área de prevenção da criminalidade.
Brantingham e Faust (1976) defendem uma distinção entre atividades de prevenção do crime primária, secundária e terciária:
A prevenção primária identifica as condições do ambiente físico e social que oferecem oportunidades ou potenciam atos criminosos. Aqui, o objetivo da intervenção é alterar essas condições para evitar a ocorrência de crimes. A prevenção secundária consiste na identificação precoce de possíveis infratores e procura intervir nas suas vidas de tal forma que estes nunca cometam uma infração criminal. A prevenção terciária lida com infratores reais e envolve uma intervenção nas suas vidas por forma a evitar a reincidência (1976, p. 290).
Tipologia de Tonry e Farrington
Tonry e Farrington (1995) distinguiram entre a aplicação da lei, a promoção do desenvolvimento social, a comunidade e a prevenção situacional.
Modelo |
Definição |
Exemplos |
Desenvolvimento social |
Como forma de intervenção precoce, a prevenção da criminalidade através do desenvolvimento social procura abordar as causas iniciais da criminalidade. A redução dos fatores de risco, comunitários e individuais, e o aumento dos fatores de proteção, contribui para prevenir a prática de crimes mais tarde na vida. |
Os exemplos mais reconhecidos de prevenção da criminalidade através do desenvolvimento social incluem programas para pais, iniciativas de enriquecimento escolar tais como formação, regimes pré-escolares e melhorias na transição dos planos escolares. |
Comunitário / Social |
O fortalecimento dos bairros ajuda a prevenir o crime. As comunidades locais que têm laços fortes e onde as pessoas se conhecem são geralmente menos propensas a sofrer crimes. Pode ser benéfico melhorar o “capital social” ou as relações entre as pessoas, para proteger as pessoas do crime. |
As atividades de desenvolvimento comunitário, a prestação de serviços de assistência social e o aumento de grupos de apoio à comunidade ajudam, no seu conjunto, a aumentar o sentido comunitário e podem contribuir para a prevenção do crime. |
Situacional |
Uma maneira eficaz de prevenir o crime é acabar com as oportunidades para a ocorrência do crime. Aumentar os riscos de deteção, reduzir as recompensas da ofensa e aumentar a dificuldade em prevaricar são formas de prevenir o crime. |
A prevenção situacional da criminalidade pode ser tão simples quanto instalar fechaduras e alarmes, aumentar a vigilância através da iluminação e construir edifícios que dificultem a entrada, que não sejam facilmente danificados e que, através da construção de barreiras, tornem o espaço físico menos apelativo à prática de crimes. |
Policiamento / Justiça Criminal |
Esta forma de prevenção da criminalidade está associada ao sistema de justiça criminal - polícia, tribunais e prisões - e é a forma mais comum de prevenção do crime. |
O policiamento orientado para os problemas pode ajudar a evitar problemas recorrentes que exigem uma resposta de policiamento por meio de uma análise detalhada dos problemas do crime e das respostas entre organizações; o policiamento comunitário é uma estratégia para incentivar o público a agir como parceiro da polícia na prevenção e gestão do crime; programas de tratamento oferecidos por meio de processos judiciais podem abordar as causas dos crimes; programas de reabilitação na prisão podem impedir a reincidência. |
O que se acaba de descrever sugere a existência de uma delimitação entre os modelos mais rígidos do que aquela que efetivamente se constata na prática. Na verdade, vários modelos se sobrepõem e/ou têm semelhanças (por exemplo, os modelos de prevenção comunitário/social e o de promoção do desenvolvimento social). Quando a literatura se concentra numa abordagem específica, pode deixar a impressão de que as diferentes abordagens operam isoladamente, mas, regra geral, não é isso que acontece na prática. Em qualquer cenário, é provável que várias formas de prevenção do crime decorram em simultâneo. Podem ser adotadas medidas de segurança para impedir o roubo de veículos a motor (prevenção situacional), enquanto organizações comunitárias trabalham com jovens em risco, para incentivar a sua participação na escola. Simultaneamente, podem ser oferecidos programas para ajudar os novos pais a desenvolver a confiança e as competências necessárias para criar filhos saudáveis e, naturalmente, é provável que existam várias atividades policiais a procurar combater problemas criminais, ao nível local e regional.
Outra dificuldade que se observa numa conceptualização da prevenção do crime que se pretenda unidimensional, é a ampla gama de crimes que podem ser cometidos e que, portanto, devem ser evitados. Embora tipos de crime “comuns”, como roubo, furto e vandalismo, por exemplo, ofereçam poucos desafios conceptuais à literatura que existe sobre prevenção da criminalidade, a prevenção de crimes económicos e de corrupção, tráfico de pessoas e contrabando de migrantes, crimes informáticos, branqueamento, produção e tráfico de drogas, prevenção do terrorismo e vários outros tipos de crimes interjurisdicionais emergentes e / ou complexos, testam os poderes explicativos das definições de prevenção do crime e suas tipologias.
Estas questões são aqui suscitadas, mas estão muito além do escopo do módulo. Para os intentos deste módulo, é suficiente destacar que, na prática, as diferentes abordagens ou modelos de prevenção da criminalidade, que acima se descreveram, operam simultaneamente e que existem desafios reais para se conseguir definir a amplitude do que é coberto pelo termo prevenção da criminalidade.
Seguinte: Tópico dois continuação–Apresentação detalhada da tipologia de Tonry e Farrington
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