Brasília, 13 de dezembro de 2022 - Um panorama do mercado de drogas no país e como se comportam os preços da maconha e cocaína, na comparação entre os estados de São Paulo, Paraná, Pernambuco e Mato Grosso, é o que apresenta o estudo “Dinâmicas do Mercado de Drogas Ilícitas no Brasil”. A publicação acaba de ser lançada pelo UNODC Brasil, no âmbito do Centro de Excelência para a Redução da Oferta de Drogas Ilícitas (CdE).
A iniciativa é resultado de projeto inédito de monitoramento desdse mercado, desenvolvido por meio de parceria entre o CdE e o Sistema Integrado de Monitoramento de Cultivos Ilícitos do Escritório Regional das Nações Unidas sobre Drogas e Crime para os Países Andinos e Cone Sul (Simci – UNODC/Colômbia) e em colaboração com instituições de segurança pública brasileiras.
Entre os meses de maio e agosto de 2022, foram coletados dados em quatro estados brasileiros: São Paulo, Paraná, Pernambuco e Mato Grosso. Com isso, foram identificados aspectos como o destino da droga, local onde foi comercializada, a forma de pagamento, o tipo de mercado, a quantidade vendida e comprada, embalagem e o valor da mercadoria. As etapas ainda incluíram workshops e capacitações nos quatro estados participantes.
O diretor de Políticas Públicas e Articulação Institucional da Senad, Marcelo de Oliveira Andrade, destacou, no evento de lançamento, a colaboração das instituições estaduais na estruturação do estudo. “Nem sempre existe a padronização e integração de dados coletados e informações produzidas, então este esforço coordenado e conjunto é fundamental no combate ao tráfico”.
Mercado complexo - Ameaça para a segurança dos Estados, a estabilidade das instituições e para o desenvolvimento sustentável, a dinâmica do mercado das drogas ilícitas influencia e impacta, principalmente, as populações socialmente mais vulneráveis e setores como a economia, a saúde pública e o meio ambiente. Ao apontar a complexidade e resiliência desse mercado, a diretora do UNODC no Brasil, Elena Abati, ressaltou a importância de “abordar o crime e o tráfico de drogas ilícitas de maneira ampla e interconectada”.
“Reconhecemos a importância de respostas multidimensionais que incluam o fortalecimento de competências especializadas, a cooperação entre os órgãos, assim como cooperação transfronteiriça”, disse a diretora do UNODC, destacando o trabalho conjunto realizado com o UNODC Colômbia. O estudo usou referências nacionais e internacionais e adaptou uma metodologia desenvolvida há mais de 20 anos, a qual foi aprimorada a partir das experiências colombianas.
“De fato, precisamos pensar em estratégias integradas, que apontem para resultados sustentáveis, com levantamento de informações qualificadas que permitam, cada vez mais, o desenvolvimento de políticas públicas para a redução e prevenção da violência, aspectos que estão em total alinhamento com a agenda 2030 das Nações Unidas”, reforçou Carlos Arboleda, representante residente adjunto do PNUD no Brasil.
Nova abordagem - O resultado do trabalho foi um olhar inovador sobre o mercado de drogas ilícitas, revelando que vários aspectos da produção e do tráfico da droga podem influenciar a dinâmica criminal.
Durante o lançamento, o estudo foi apresentado pelo coordenador do CdE, Gabriel Andreuccetti, e pelo especialista em Gestão de Ativos e Inteligência Financeira do Centro, Claudio Monteiro. Para abordar o sistema de monitoramento do mercado de drogas criado pela Colômbia, contrastando-o com o trabalho feito em colaboração com o CdE, participaram o coordenador do Simci, German Andrés Clavijo; o Oficial de Programa, Hector Hernando Bernal Contreras; e o assessor temático com ênfase em Mediação Econômica e Social do Simci, Iván Ernesto Piraquive López.
“O mais importante é que o sistema tenha sustentabilidade e ofereça conteúdo e análises a outras instituições, para que estas desenhem suas próprias estratégias de enfrentamento ao tráfico de drogas, contribuindo também para a criação de políticas eficientes frente à problemática”, destacou Contreras.
Entre os fatores que contribuem para o aumento do preço das drogas, estão os riscos associados a cada uma das etapas do processo, como os conflitos nas zonas de produção, controles alfandegários e a ação policial. A presença das organizações criminosas nos territórios é determinante: o estudo aponta que, tanto disputas entre diferentes grupos, quanto a hegemonia de uma única organização, podem influir na variação dos preços.
Com relação ao preço da base de cocaína, por exemplo, foi verificado que os valores no Brasil aumentam conforme a mercadoria se distancia dos países produtores da droga.
Essa variação também acontece de acordo com a pureza das drogas. A tendência é de que, quanto menor o preço, mais adulteradas são as substâncias.
O preço médio do quilograma da maconha no atacado, por exemplo, parte de R$900 em São Paulo, chegando até R$3.000 no Paraná. Já o preço médio do quilograma de cloridrato de cocaína no atacado vai de R$13.700, em São Paulo, alcançando R$23.800 no Mato Grosso.
O lançamento teve a presença de pesquisadores, gestores públicos, policiais, contando ainda com a participação de representantes dos estados integrantes do estudo: o diretor do Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico da Polícia Civil de São Paulo, Ronaldo Augusto Sayeg; a delegada titular da Delegacia Especializada de Repressão de Entorpecentes da Polícia Judiciária Civil do Mato Grosso, Juliana Palhares; o policial civil do Paraná, Rafael Pires; e o policial militar de Pernambuco, major Daniel Augusto da Silva.
CdE
O CdE é fruto de parceria entre a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos do Ministério da Justiça e Segurança Pública (Senad/MJSP), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC).
Acesse a publicação: www.cdebrasil.org.br/estudos