Viena, 8 de julho - Um novo estudo divulgado hoje pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) ilustra o impacto devastador da COVID-19 sobre as vítimas e sobreviventes do tráfico humano e destaca o aumento da focalização e exploração de crianças.
O estudo avalia ainda mais como as organizações da linha de frente responderam aos desafios colocados pela pandemia e continuaram a prestar serviços essenciais, apesar das restrições.
Enquanto isso, os traficantes tiraram vantagem da crise global, capitalizando a perda de renda das pessoas e o aumento do tempo que tanto adultos quanto crianças estavam passando on-line.
"A pandemia aumentou as vulnerabilidades ao tráfico de pessoas, tornando o tráfico ainda mais difícil de detectar e deixando as vítimas lutando para obter ajuda e acesso à justiça", diz a Diretora Executiva do UNODC, Ghada Waly.
"Este estudo é um novo e importante recurso para formuladores de políticas e profissionais da justiça criminal, pois examina estratégias bem sucedidas para investigar e processar o tráfico de pessoas em tempos de crise. Ele também fornece recomendações sobre o apoio às respostas da linha de frente e às vítimas e a construção de resiliência para futuras crises".
A publicação mostra que as medidas para conter a propagação do vírus aumentaram o risco de tráfico para pessoas em situações vulneráveis, expondo as vítimas a maior exploração e limitando o acesso a serviços essenciais para os sobreviventes deste crime.
"Os traficantes se aproveitam das vulnerabilidades e frequentemente atraem suas vítimas com falsas promessas de emprego", explica Ilias Chatzis, Chefe da Seção de Tráfico de Pessoas e Contrabando de Migrantes do UNODC, que desenvolveu o novo estudo.
"A pandemia levou a grandes perdas de empregos em muitos setores e isto cria oportunidades para que as redes criminosas se aproveitem de pessoas desesperadas", acrescenta ele.
O estudo descobriu que as crianças estão sendo cada vez mais alvo de traficantes que estão usando as mídias sociais e outras plataformas on-line para recrutar novas vítimas e lucrar com o aumento da demanda por materiais de exploração sexual infantil.
"Os especialistas que contribuíram para nosso estudo relataram suas preocupações sobre o aumento do tráfico de crianças. Crianças estão sendo traficadas para exploração sexual, casamento forçado, mendicidade forçada e para criminalidade forçada", diz o Sr. Chatzis.
Devido aos bloqueios e limitações nos serviços antitráfico, as vítimas tinham ainda menos chances de escapar de seus traficantes.
Com as fronteiras fechadas, muitas vítimas de tráfico resgatadas foram forçadas a permanecer por meses em abrigos nos países onde haviam sido exploradas em vez de voltar para casa.
Os serviços essenciais de apoio e proteção dos quais as vítimas dependem foram reduzidos ou mesmo suspensos.
"Quando as vítimas resgatadas estão se recuperando de sua provação, muitas vezes precisam de assistência regular como parte do processo de reabilitação e reintegração. Isto poderia ser assistência médica, psicológica, assistência jurídica ou acesso à educação e oportunidades de emprego", diz Ilias Chatzis do UNODC.
"Em muitos casos isto simplesmente parou, colocando os sobreviventes do tráfico em risco de serem re-traumatizados ou mesmo re-traficados, especialmente aqueles que perderam seus empregos e ficaram subitamente desempregados e destituídos", acrescenta ele.
Embora muitas partes do mundo tenham chegado a um impasse, a pandemia da COVID não retardou o tráfico humano.
"O crime prospera em tempos de crise e os traficantes se adaptaram rapidamente ao 'novo normal'". Eles responderam ao fechamento de bares, clubes e casas de massagem, onde a exploração pode ocorrer, simplesmente transferindo seus negócios ilegais para propriedades privadas ou online", acrescenta ele.
Em alguns países, policiais de unidades especializadas anti-tráfico foram transferidos de suas funções regulares para controlar os esforços nacionais para conter a propagação da COVID, dando aos traficantes uma oportunidade de operar com menor risco de serem detectados.
"A pandemia nos ensinou que precisamos desenvolver estratégias sobre como continuar as atividades antitráfico humano em nível nacional e internacional, mesmo durante uma crise. Esperamos que as conclusões de nosso estudo e suas recomendações contribuam para isso", diz Ilias Chatzis.
Para saber mais: http://www.agenda2030.com.br/