UNODC e INTERPOL avançam em estratégias de cooperação regional contra o desmatamento durante evento em Brasília (DF)

Coordenação regional, tecnologia e rastreamento financeiro se destacam como ferramentas-chave no combate aos crimes ambientais na América Latina.

Foto: LEAP

Brasília (DF), 3 de abril de 2025 De 25 a 26 de março, Brasília sediou o workshop LEAP 3.0: Avançando a Cooperação Regional sobre Crimes Florestais, organizado pela INTERPOL e pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) e com apoio da Iniciativa Internacional da Noruega para o Clima e as Florestas (NICFI), no âmbito do projeto LEAP – Crimes Florestais e Comércio Ilícito de Madeira. O evento reuniu mais de 50 representantes de polícias ambientais, autoridades florestais, unidades de inteligência financeira e Ministérios Públicos de cincopaíses da América Latina, com o objetivo de fortalecer a resposta integrada a crimes como extração ilegal de madeira, tráfico de produtos florestais e mineração ilegal de ouro. 

A mesa de abertura contou com a participação de Nicole Quijano-Evans, Chefe Adjunta do Programa Global sobre Crimes que Afetam o Meio Ambiente do UNODC, Marco Foddi, Gerente do Programa de Segurança Ambiental da INTERPOL, Rannveig Formo, Consultora Sênior do NICFI, Fabio Mertens, Diretor Interino de Cooperação Internacional e Chefe do Escritório Central Nacional da INTERPOL em Brasília e Humberto Freire de Barros,  Diretor da Amazônia e Meio Ambiente na DAMAZ/PF, destacando o compromisso multissetorial no enfrentamentoaos crimes ambientais por meio de inteligência operacional, cooperação transfronteiriça e rastreamento financeiro. 

O workshop buscou consolidar e compartilhar os resultados do LEAP e definir prioridades para a próxima fase do projeto, a Rota LEAP 3.0. Entre os objetivos estiveram a análise de tendências emergentes, como o crescimento da mineração ilegal de ouro – atividade que contamina rios com mercúrio e está ligada a violações de direitos humanos e outros crimes organizados –, e a promoção de estratégias integradas entre agências policiais, autoridades florestais e unidades de inteligência financeira. 

Foto: LEAP

O evento destacou a necessidade de ampliar o uso de tecnologias, como imagens de satélite e inteligência artificial, para monitorar áreas remotas e identificar crimes em tempo real. Os participantes também discutiram casos práticos, como a conexão entre o tráfico de madeira e a lavagem de dinheiro por meio de empresas de fachada, e a importância de processos judiciais mais ágeis para responsabilizar redes criminosas. 

Durante as sessões técnicas, foram apresentados avanços concretos do LEAP, entre eles o treinamento de dezenas de agentes em identificação de madeira, análise de cadeias de suprimentos ilegais e detecção de fraudes em licenças ambientais. Um dos destaques foi a demonstração de equipamentos de monitoramento remoto, doados pelo projeto a países com pouca infraestrutura de fiscalização. 

Legado e expectativas

Os debates e propostas do workshop serão compilados em um relatório técnico, com diretrizes operacionais para a implementação da terceira fase do LEAP, iniciativa que reforça o compromisso da INTERPOL e do UNODC, com o apoio do NICFI, para alinhar esforços globais contra crimes que ameaçam a biodiversidade e a segurança climática, além de destacar o papel crítico da cooperação regional na proteção de ecossistemas como a Amazônia. 

A Rota LEAP 3.0 se propõe a ampliar a cooperação entre países para investigar crimes ambientais com impacto transfronteiriço, integrar inteligência artificial a sistemas de alerta precoce e fortalecer o rastreamento de fluxos financeiros ligados ao desmatamento, em parceria com unidades de inteligência financeira. 

Cooperação internacional

A América Latina, lar de biomas críticos como a Amazônia e o Chaco, enfrenta ameaças crescentes de crimes ambientais transnacionais, que combinam extração ilegal de recursos, corrupção e lavagem de dinheiro. Apesar dos avanços recentes — como a redução recorde no desmatamento no Brasil e na Colômbia —, a região ainda sofre com redes criminosas que exploram madeira e minerais de forma ilegal, agravando a degradação ambiental e afetando comunidades indígenas e tradicionais. Alinhado ao seu mandato enquanto principal promotor da Convenção das Nações Unidas Contra o Crime Organizado (UNTOC), bem como seus protocolos sobre crimes que afetam o meio ambiente, o UNODC atua na construção de respostas a essas práticas, apoiando países na implementação da UNTOC por meio de cooperação internacional, fortalecimento de capacidades institucionais e promoção de estratégias integradas. 

LEAP

LEAP – Crimes Florestais e Comércio Ilícito de Madeira, programa conjunto da INTERPOL e do UNODC apoiado pelNICFI, foi lançado em 2018 e tem como foco reduzir esses delitos por meio de operações e investigações transnacionais, intercâmbios de boas práticas entre instituições, treinamentos teóricos e práticos, cooperação entre agências e especializaçãtécnica em aplicação da lei. Desde sua criação, o programa já viabilizou operações como a Operação Amazônia, que mobilizou 12 países e resultou na apreensão de 1,2 mil toneladas de madeira ilegal (avaliadas em US$ 700 mil), além de identificar rotas de tráfico e empresas envolvidas em fraudes documentais.  

O LEAP já forneceu uma série de suportes e análises forenses digitais, revelando os modelos de negócios por trás de redes criminosas globais sofisticadas, e treinou equipes de especialistas, promovendo as capacidades das autoridades policiais de investigar crimes florestais de forma mais eficaz. Ao fornecer assistência na redução dos crimes florestais, o LEAP contribui para o enfrentamento das mudanças climáticas e para a realização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).