Brasília, fevereiro de 2025 – A comunicação tem se tornado uma poderosa ferramenta de resiliência para os povos indígenas que enfrentam a crescente ameaça do garimpo ilegal em seus territórios. Para fortalecer essa atuação, o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) Brasil promoveu uma oficina de comunicação no âmbito do projeto SAR-TI – Fortalecimento de Sistemas de Alerta Rápido e Respostas aos Crimes Ambientais relacionados à Mineração Ilegal do Ouro em Territórios Indígenas, apoiado pelo Ministério de Assuntos Estrangeiros e Cooperação Internacional (MAECI) do Governo da Itália, reunindo oito jovens comunicadores indígenas. O treinamento ocorreu entre os dias 11 e 14 de fevereiro de 2025, em Boa Vista, Roraima, em parceria com o Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e o Conselho Indígena de Roraima (CIR).
O curso promovido pelo UNODC permitiu que jovens de diferentes etnias como Kayapó, Munduruku, WaiWai, Matis, Ye'kwana e Taurepang - cujos territórios se distanciam em até três mil quilômetros - pudessem compartilhar experiências, fortalecer laços e construir estratégias conjuntas para enfrentar as ameaças que impactam seus territórios. Apesar da distância, essas e outras comunidades de diferentes regiões do país, compartilham desafios comuns, como a invasão de terras pelo crime organizado e os impactos socioambientais da mineração ilegal.
A iniciativa reforça o compromisso do UNODC com a proteção dos direitos dos povos indígenas e com o enfrentamento do crime organizado e dos crimes ambientais, em alinhamento com seu mandato global e com a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional (Convenção de Palermo/UNTOC).A mineração ilegal e outras atividades ilícitas em territórios indígenas estão frequentemente ligadas a redes criminosas, muitas delas com atividades transnacionais, resultando em violência, exploração e degradação ambiental. Ao capacitar jovens comunicadores indígenas, o UNODC fortalece a comunicação como uma ferramenta estratégica de resiliência, permitindo que essas comunidades denunciem violações, ampliem a conscientização sobre seus direitos e mobilizem apoio para a proteção de seus territórios e culturas
Durante a oficina, os participantes receberam capacitação em planejamento estratégico de comunicação, aprenderam sobre a importância de enfrentar a desinformação, as chamadas fakesnews, além de incorporarem diferentes formatos e ferramentas de divulgação. Foram abordados ainda temas como produção de spots de rádio, podcasts, postagens para redes sociais e outros produtos de comunicação, considerando os públicos-alvo, que incluem suas próprias comunidades, a sociedade em geral e a mídia.
Mais do que simples narradores de suas realidades, esses jovens são agentes de transformação. Por meio da produção audiovisual e digital, registram e denunciam problemas como desmatamento, queimadas, invasão de terras, crime organizado e o avanço da mineração ilegal. Além disso, utilizam a comunicação para preservar e divulgar suas culturas, promovendo o fortalecimento de suas identidades e o engajamento de suas comunidades.
SAR-TI – O SAR-TI é uma iniciativa do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), apoiada pelo Ministério de Assuntos Estrangeiros e Cooperação Internacional (MAECI) do Governo da Itália. Tem como objetivo apoiar e fomentar a articulação de associações e organizações indígenas, instituições governamentais e da sociedade civil para a estruturação, fortalecimento e integração de mecanismos de preparação, monitoramento, alerta rápido e resposta aos crimes ambientais e outros crimes em territórios indígenas, com foco em áreas afetadas pela mineração ilegal do ouro na Amazônia.
UNODC e mineração ilegal – A mineração ilegal e o tráfico de metais preciosos afetam negativamente a paz, a estabilidade, a segurança, o desenvolvimento, a governança, o estado de direito, o meio ambiente e a economia. Em 2019, o Conselho Econômico e Social (ECOSOC) adotou a Resolução 2019/23 intitulada Combate ao crime organizado transnacional e seus vínculos com o tráfico ilícito de metais preciosos e a mineração ilegal, inclusive por meio do aumento da segurança das cadeias de suprimento de metais preciosos, com base na recomendação da Comissão de Prevenção ao Crime e Justiça Criminal (E/2019/30).Ela conclama os Estados a aumentarem a cooperação, inclusive trabalhando com o UNODCea fazerem uso das disposições da Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional (UNTOC) e da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção (UNCAC).