Tráfico de pessoas abusa da tecnologia online para fazer mais vítimas
Brasília, 3 de novembro de 2021 - Relatório do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) sobre tráfico de pessoas revela como vítimas são afetadas por práticas criminosas de perpetradores na internet.
O abuso sexual e outras formas de exploração estão ocorrendo virtualmente, registrados em foto e vídeo, e vendidos em diferentes plataformas para clientes em todo o mundo. São muitas vítimas, incluindo crianças, que, devido à pandemia de COVID-19 e o fechamento das escolas, passam mais tempo online.
Mídias sociais, plataformas de namoro e outros aplicativos estão sendo usados por predadores devido às informações pessoais e detalhes de localização prontamente disponíveis. Para tratar do tema, especialistas de cerca de 100 países reuniram-se em Viena, na Áustria. Foram discutidas estratégias de combate ao fenômeno, assim como o uso da tecnologia para prevenir o tráfico de pessoas e investigar casos.
Traficantes de seres humanos
estão aproveitando as tecnologias online em cada etapa de suas atividades criminosas. A conclusão é de uma pesquisa conduzida pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (
UNODC). O estudo mostra como as vítimas estão sendo alvejadas e recrutadas por meio de mídias sociais e plataformas de namoro online, onde informações pessoais e detalhes da localização estão prontamente disponíveis.
Novas estratégias - Nesta semana, especialistas de cerca de 100 países se reuniram online em Viena, na Áustria, para discutir estratégias de combate a esse fenômeno e fazer melhor uso da tecnologia para prevenir
o tráfico de pessoas e investigar casos.
“Os traficantes adaptam rapidamente seu modelo de negócios para atender às suas necessidades e aumentar seus lucros, então é claro que seguem as tendências online”, explica Tiphanie Crittin, oficial de prevenção ao crime e justiça criminal do UNODC.
Exploração na dark web - “Os traficantes estão atualmente usando tecnologia para traçar o perfil, recrutar, controlar e explorar suas vítimas, bem como usar a internet, especialmente a dark web, para esconder materiais ilegais provenientes do tráfico e suas identidades reais dos investigadores”, alertou Crittin.
O produto ilícito desse crime altamente lucrativo também está sendo lavado online por meio de criptomoedas, o que torna mais fácil para os traficantes receber, ocultar e movimentar grandes quantias de dinheiro com menos risco de serem detectados.
Hoje, a internet oferece acesso fácil a um grupo muito maior de vítimas em potencial porque as limitações físicas e geográficas tradicionais não existem mais. Os traficantes criam sites falsos ou publicam anúncios em portais de emprego legítimos e sites de redes sociais.
Golpes de chat ao vivo - Alguns desses sites oferecem a opção de chat ao vivo. Isso dá ao traficante contato imediato e a oportunidade de obter informações pessoais, como detalhes do passaporte, aumentando seu poder sobre as vítimas visadas. As vítimas podem ser exploradas repetidamente por meio de transmissão ao vivo em vários sites, e não há limite para o número de vezes que os vídeos podem ser vistos e por quantas pessoas.
A natureza global do tráfico de pessoas e do abuso de tecnologia torna ainda mais difícil para as autoridades policiais combater esse crime, explica a agente do UNODC.
“Quando um crime é planejado em um país, com vítimas em outro país e um cliente em um terceiro, as autoridades policiais enfrentam desafios práticos, como encontrar e proteger evidências, já que qualquer investigação requer cooperação além das fronteiras e um certo nível de especialização digital”, diz ela.
Controle remotamente - Os traficantes usam a tecnologia para controlar suas vítimas remotamente, às vezes sem precisar conhecê-los pessoalmente. Aplicativos de rastreamento de localização e uso de sistemas de posicionamento global em telefones celulares podem ser usados para saber a localização da vítima, enquanto câmeras em smartphones usadas durante chamadas de vídeo permitem o monitoramento extensivo das vitmas. Os traficantes também mantêm o controle por meio de ameaças de divulgar fotos ou vídeos íntimos a familiares e amigos.
Uma das painelistas do Grupo de Trabalho, Alexandra Gelber, vice-chefe de Política e Legislação da Seção de Exploração Infantil e Obscenidade do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, destacou as ligações entre o tráfico e a tecnologia online em seu país.
“Os dados mostram que, nos Estados Unidos, aproximadamente 40% das vítimas de tráfico sexual são recrutadas online, tornando a internet o local mais comum onde ocorre o recrutamento de vítimas”, diz ela.
“Por mais de uma década, a publicidade online foi a principal tática usada pelos traficantes para solicitar compradores para sexo comercial. Em 2020, mais de 80% dos processos por tráfico sexual [do Departamento de Justiça norte-americano] envolveram publicidade online”, informou a vice-chefe americana.
Gelber acrescenta que a tecnologia também está sendo usada para cometer “tráfico sexual infantil virtual”, que ocorre quando um criminoso nos Estados Unidos envia um pagamento digital a um traficante em outro país. “O traficante então abusará sexualmente de uma criança na frente de uma câmera da web, enquanto o agressor nos Estados Unidos assiste a uma transmissão ao vivo do abuso”, disse, ao relatar a forma grotesca que as violações também podem atingir crianças.
Fator COVID - A pandemia
COVID-19 forneceu mais oportunidades para os traficantes devido ao aumento do uso da internet, em particular de redes sociais e sites de jogos de vídeo online.
“As medidas de contenção para controlar a propagação do vírus fizeram com que as pessoas passassem muito mais tempo online, especialmente as crianças, porque as escolas foram fechadas. Vimos um aumento nos materiais de exploração sexual infantil criados e compartilhados online durante a pandemia ”, informou Tiphanie Crittin do UNODC.
Bom uso da tecnologia - Apesar do crescente uso criminoso de tecnologia por traficantes, a tecnologia também pode ser usada para identificar vítimas e apoiar investigações e processos policiais. "Quando os investigadores entram no mundo digital dos cidadãos, eles têm acesso a informações pessoais. É crucial ter estruturas rígidas em torno desse acesso e uso de dados para garantir que o direito à privacidade e os direitos humanos sejam respeitados ”, insistiu Crittin.
O
relatório do UNODC aponta numerosos exemplos de ações existentes ou parcerias promissoras e ferramentas que os países estão usando ou desenvolvendo. Isso inclui análise forense digital, ferramentas de digitalização de dados, aplicativos de smartphone e colaborações de sucesso com empresas de tecnologia, mídia social e internet.
O UNODC também co-organizou a
“DataJams” com a gigante da computação IBM e a organização não governamental colombiana Pasos Libres, na qual estudantes competem online para desenvolver soluções baseadas em tecnologia para identificar e proteger vítimas de tráfico e apoiar processos judiciais.
Para saber mais: http://www.agenda2030.com.br/