Brasília, 5 de maio de 2020 – As medidas para conter a propagação do coronavírus estão expondo as vítimas de tráfico de pessoas a uma maior exploração e limitando seu acesso a serviços essenciais.
Nova análise feita pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) mostra como os bloqueios, restrições de viagem, limitações de trabalho e cortes de recursos estão tendo um impacto negativo e muitas vezes perigoso na vida dessas pessoas já vulneráveis.
De acordo com a diretora-executiva do UNODC, Ghada Waly, com a Covid-19 restringindo o movimento, desviando recursos para a aplicação da lei e reduzindo os serviços sociais e públicos, as vítimas de tráfico de pessoas têm ainda menos chance de escapar e encontrar ajuda.
"Enquanto trabalhamos juntos para superar a pandemia global, os países precisam manter abertos os abrigos e linhas diretas, salvaguardar o acesso à justiça e impedir que pessoas mais vulneráveis caiam nas mãos do crime organizado. O UNODC está apoiando governos e parceiros de ONGs em todo o mundo para permitir que as unidades de combate ao tráfico continuem realizando seu trabalho essencial com segurança e para garantir que as vítimas de tráfico de pessoas possam obter a assistência de que precisam”, afirmou.
Algumas vítimas que foram resgatadas do cativeiro não podem voltar para casa porque as fronteiras estão fechadas devido à pandemia. Outras enfrentam atrasos nos procedimentos legais e uma redução no suporte e proteção em que confiam, enquanto outras correm o risco de mais abusos ou negligência por parte de seus sequestradores.
Parceiros que trabalham com o UNODC têm relatado que mais crianças estão sendo forçadas a irem para as ruas em busca de comida e renda, aumentando o risco de exploração. O fechamento das escolas não apenas interrompeu o acesso à educação, mas, em alguns casos, também impediu acesso à principal fonte de abrigo e nutrição.
O chefe da seção de tráfico de pessoas do UNODC, Ilias Chatzis, contou que estão surgindo novas oportunidades para o crime organizado se beneficiar da crise em função da pandemia da COVID-19. “Isso significa que os traficantes podem se tornar mais ativos e atacar pessoas ainda mais vulneráveis do que antes, porque perderam sua fonte de renda devido a medidas de controle do vírus”, disse.
"Em alguns países, os recursos destinados à aplicação da lei estão sendo desviados do combate ao crime para ações relacionadas ao controle da pandemia e os serviços de ajuda às vítimas do tráfico estão sendo reduzidos ao mínimo ou encerrados", acrescentou.
Segundo Ilias Chatzis, as pessoas em situação vulnerável estão mais sujeitas a contraírem o vírus e têm menos acesso à assistência médica se ficarem doentes. “É alarmante saber que, em alguns lugares, as vítimas do tráfico não têm mais acesso a abrigos, alguns abrigos até fecharam devido ao vírus e outros carecem de equipamentos de proteção – colocando as vítimas e os funcionários em risco”, afirmou.
O UNODC está monitorando constantemente a situação por meio da sua rede de escritórios de campo e parceiros globais e tem aumentado o apoio prestado.
Ilias Chatzis explicou que o UNODC ajuda as unidades de combate ao tráfico a obter o equipamento de proteção necessário para realizar seu trabalho com segurança, fornecendo financiamento para ajudar as vítimas que precisam de apoio adicional, durante esta crise, e ajudando os países a avaliar o impacto da pandemia nos recursos destinados às vítimas, bem como para a aplicação da lei e sistemas de justiça.
Além de uma resposta direta, o UNODC recomenda que os governos tomem medidas para garantir que, enquanto as atuais restrições a viagens e liberdade de movimento sejam respeitadas, o acesso a serviços essenciais para vítimas de tráfico de pessoas seja garantido sem discriminação.
“O tráfico de seres humanos é o resultado do fracasso de nossas sociedades e economias em não proteger os mais vulneráveis”. “Eles não devem ser 'punidos' em tempos de crise”, disse Ilias Chatzis.
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Impacto da Pandemia de COVID-19 no Tráfico de Pessoas
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Matéria original em Inglês
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