Projeto Jogos Limpos, Dentro e Fora dos Estádios
Bo Mathiasen
Senhoras e senhores, bom dia!
Em nome do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, organismo internacional que represento no Brasil, quero agradecer a oportunidade de me dirigir aos senhores, no marco do lançamento do projeto Jogos Limpos, Dentro e Fora dos Estádios, promovido pelo Instituto Ethos.
Desde os primeiros contatos com o Instituto Ethos, o que mais me chamou a atenção é que se trata de uma organização que envolve diversas empresas do setor privado, assumindo sua responsabilidade social na prevenção da corrupção.
O projeto "Jogos Limpos, Dentro e Fora dos Estádios" busca aumentar os níveis de transparência, integridade e controle social dos investimentos nas obras de infraestrutura da Copa do Mundo de 2014 e dos Jogos Olímpicos de 2016.
O comitê nacional, do qual fomos convidados a fazer parte, é composto por diversas organizações que atuam constantemente na promoção de uma agenda pró-ética, pró-integridade e de absoluta transparência na realização desses megaeventos no Brasil.
Esse tipo de iniciativa é de grande importância para a construção de uma cultura de ética e integridade na sociedade, por isso, o projeto conta com o apoio do UNODC.
Não é por acaso que o Instituto Ethos está ligado ao Pacto Global das Nações Unidas contra a Corrupção, que estabelece diretrizes e metas para a atuação com responsabilidade social do mercado financeiro e empresarial em todo o mundo.
O objetivo do Pacto Global é mobilizar a comunidade empresarial internacional a adotar valores fundamentais nas áreas de direitos humanos, relações de trabalho, meio ambiente e combate à corrupção.
Este projeto é financiado pela Siemens, o que o torna simbólico. Como vocês sabem, a Siemens é uma empresa multinacional com negócios e produção em diversos países do mundo e que há poucos anos se viu envolvida num escândalo de corrupção institucionalizada.
Esse episódio não pode ser esquecido, pois a partir dele a Siemens realizou uma profunda reestruturação.
Hoje, é uma das empresas que mais investe no combate à corrupção e promove a construção de uma cultura de ética e integridade no âmbito empresarial.
Se antes ela se viu "investindo" em relações escusas com o governo, hoje é um exemplo a ser seguido. A Siemens não apenas apóia, mas investe recursos em projetos como este, que contribuem para um mundo empresarial mais transparente.
Outro ponto importante do projeto Jogos Limpos Dentro e Fora dos Estádios é o envolvimento direto da sociedade em cada uma das cidades-sede que receberão os jogos da Copa do Mundo em 2014 e, em especial, no Rio de Janeiro, que também receberá os Jogos Olímpicos em 2016.
A participação da sociedade civil no âmbito local, com a designação de pessoas para acompanhar de perto o que será feito em cada uma dessas cidades é crucial para o sucesso de iniciativas de controle social e anti-corrupção.
Ao permitir o acesso a informações e facilitar a fiscalização da aplicação do dinheiro público por parte dos cidadãos, é possível envolver a sociedade a tal ponto que pessoas comuns se sintam no dever de cobrar que o investimento dos recursos públicos seja feito com o máximo grau de transparência.
Isso, senhores, é investir em Prevenção.
E, investir na prevenção contra a corrupção significa também prevenir a violência, aumentar a empregabilidade e gerar riquezas e bem-estar social, pois o dinheiro que é desviado dos cofres públicos é um dinheiro perdido, que não é reinvestido na sociedade, deixando de produzir uma série de melhorias para o país e para a população.
Aliás, cada vez mais a iniciativa privada assume um papel fundamental na transformação social, muitas vezes preenchendo ou, no mínimo, complementando o trabalho dos governos de promover o desenvolvimento humano.
Este tipo de iniciativa vai ao encontro das recomendações da Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, da qual o Brasil é signatário desde 2003.
Esta Convenção estabelece medidas para a construção de uma cultura de ética e integridade em todos os setores da sociedade, incluindo a sociedade civil e o setor privado.
Mas essas ações não podem depender apenas de uma instituição e de suas parceiras, como no caso do Instituto Ethos. Pois somente com a participação efetiva de cada um de nós, nos nossos mais diversos papéis sociais, será possível garantir a todos uma vida mais digna e repleta de oportunidades que levem a um futuro melhor.
Uma sociedade civil participante é condição sine qua non para a construção da democracia e o exercício pleno do Estado de Direito.
Por isso, tenho absoluta certeza de que esta iniciativa promovida pelo Instituo Ethos, e da qual o UNODC fará parte, tem condições de cumprir o que dela se espera, cobrando transparência e ética nos gastos públicos destinados à promoção da Copa do Mundo de 2014 e das Olímpiadas de 2016.
Muito obrigado.
São Paulo, 23 de Março