Relatório Cocaine Insights 4 é lançado com destaque aos impactos da Covid-19 nas rotas regionais e transatlânticas que atravessam o Brasil

Brasília, 20 de Julho de 2022 –  A produção global de cocaína alcançou níveis recorde, atingindo 1.982 toneladas a partir de 2020.  Os caminhos traçados pelo tráfico são determinados pelos locais de produção e consumo, e o Brasil está na rota do tráfico de cocaína da América do Sul para África e Europa. No país, as medidas adotadas com relação à covid-19 parecem ter tido impacto na redistribuição e na  gestão do mercado de cocaína internamente.

A covid-19 e o seus impactos na cadeia de abastecimento de cocaína dentro e fora do Brasil são o tema da quarta edição da série “Cocaine Insights”,  lançada nesta terça-feira (19/07) pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) e pelo Centro de Excelência para a Redução  da Oferta de Drogas Ilícitas no Brasil (CdE). O CdE é fruto de uma parceria entre o UNODC, a Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas e Gestão de Ativos do Ministério da Justiça e Segurança Pública (SENAD/MJSP) e o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil.

“É importante destacar que o PNUD e a SENAD, por meio desta parceria com o UNODC, vêm apoiando a estruturação e o trabalho do CdE, que tem, como parte de sua missão, sistematizar e disponibilizar dados para a realização de pesquisas e estudos das mais diversas instituições. A publicação Cocaine Insights é um exemplo concreto de que a missão do CdE está sendo alcançada”, afirma Gabriel Andreuccetti, coordenador do CdE.

A colaboração entre UNODC e CdE na atual edição do Cocaine Insights permitiu complementar resultados obtidos no primeiro estudo estratégico do Centro de Excelência, intitulado “Covid-19 e tráfico de drogas no Brasil: a adaptação do crime organizado e a atuação das forças policiais na pandemia”. Com isso, foi possível expandir a compreensão das dinâmicas do tráfico de drogas, principalmente da cocaína, no Brasil e na região da América Latina.

“O Cocaine Insights 4 apresenta uma visão ampliada a partir da análise de dados do Brasil e de países envolvidos no tráfico de cocaína na região transatlântica. Os resultados apresentados integram um esforço global de pesquisa para apontar mudanças na cadeia do tráfico de drogas e na alteração da atuação das organizações criminosas. Nesse sentido, ele é bastante pioneiro no contexto brasileiro, unindo dados de diferentes organizações policiais e de outras instituições vinculadas à repressão ao narcotráfico para se pensar nesse conjunto de ações de maneira estratégica”, enfatiza Gustavo Camilo Baptista, diretor de Políticas Públicas e Articulação Institucional Substituto da SENAD/MJSP.

Durante o lançamento, Andreuccetti explicou que “a fiscalização do tráfico de drogas no Brasil é muito complexa e qualquer estudo sobre o tema demanda um entendimento baseado em evidências e uma metodologia robusta, uma vez que o país é federativo e possui dimensões continentais. Por isso é tão importante a parceria com instituições brasileiras na integração e coleta de dados, assim como a parceria com órgãos internacionais de pesquisa como o Research and Analysis Branch do UNODC, em Viena, para as análises e o desenvolvimento desse estudo”, disse o coordenador do CdE.

Mudanças e tendências

O Cocaine Insights 4 aponta importantes mudanças nos padrões do tráfico de drogas e do crime organizado por meio dos novos contextos da pandemia, relacionando-os à cadeia regional e transatlântica de produção e distribuição de cocaína. Os principais achados do relatório foram apresentados durante o evento de lançamento por Antoine Vella, Oficial de Pesquisa sobre Cocaína da Seção de Pesquisa sobre Drogas do UNODC.

A publicação também mostra que a covid-19 afetou as atividades das forças de segurança, comprometeu as atividades de grupos do crime organizado, impactou os fluxos de cocaína e cannabis e induziu mudanças nas modalidades de tráfico, entre outros impactos no mercado de cocaína no Brasil e na região.

As medidas de lockdown relacionadas à covid-19 no Brasil permitiram às forças de segurança dedicar mais recursos à apreensão de drogas. Assim, aumentou de forma acentuada o número de apreensões de algumas drogas ilícitas, como a cannabis. O relatório também detalha como a oferta de cannabis se expandiu pelo Brasil enquanto o impacto sobre a cocaína variou entre Unidades Federativas (UFs), apesar de um declínio geral nas quantidades apreendidas no início do período de pandemia. Os dados sobre as apreensões de cocaína no país sugerem que, após o início da covid-19, houve uma tendência crescente da droga nos estados do oeste do país, enquanto se observa uma tendência decrescente nos estados a leste, à medida que os fluxos dos portos marítimos para fora do país diminuíram.

O “Cocaine Insights 4” mostra que as medidas relacionadas à covid-19 também dificultaram o deslocamento interno, pelo crime organizado, da cocaína importada em direção aos portos de saída e áreas de consumo. As dificuldades no transporte transfronteiriço de cocaína levaram provavelmente a um aumento dos voos clandestinos e, por conseguinte, a um aumento dos fluxos para os estados fronteiriços a oeste.

Uma queda nas apreensões de cocaína nos portos marítimos brasileiros ocorreu paralelamente a declínios de cocaína apreendida nos países de destino, tais como os da Europa Ocidental e Central, em remessas que se sabe terem partido do Brasil. A diminuição dos fluxos provenientes do Brasil parece, no entanto, ter sido temporária.

O “Cocaine Insights 4” retrata, ainda, o processo da covid-19 acelerando tendências já existentes no tráfico de cocaína. A pandemia impôs necessidades de adaptação às instituições de segurança pública no Brasil e prejudicou algumas atividades policiais, mas, inversamente, levou a medidas restritivas de deslocamento que facilitaram a interdição de drogas nas estradas. Além disso, o relatório detalha como a disponibilidade de cannabis se expandiu em todo o Brasil após o início da pandemia, impulsionada por grandes aumentos nos fluxos vindos do Paraguai.

O “Cocaine Insights 4” também destaca como as organizações criminosas continuam a ser mais especializadas e a utilizar cada vez mais novas tecnologias. Este cenário complexo salienta a necessidade de fortalecimento da cooperação internacional para enfrentar o crime organizado transnacional de uma forma articulada, centrada nas pessoas e considerando de forma abrangente os aspectos econômicos e sociais.

Acesse o relatório Cocaine Insights 4 AQUI.

Sobre a série Cocaine Insights

A série “Cocaine Insights”, desenvolvida pelo UNODC no âmbito do programa CRIMJUST e em cooperação com parceiros e partes interessadas em nível nacional, regional e internacional, fornece, em formato acessível e informativo, os mais recentes conhecimentos e tendências sobre questões relacionadas aos mercados da cocaína: o comércio ilícito de cocaína, o seu impacto, e as perspectivas para o futuro. Esta edição é resultado de uma colaboração entre o UNODC e o CdE. Saiba mais AQUI.

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Para aprender mais: http://www.agenda2030.com.br/  

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