UNODC faz parceria com o Brasil para campanha Liberdade no Ar
Brasília, 02 de setembro de 2020 – Para a maioria das pessoas, embarcar em um avião significa o início de uma nova aventura. Estão saindo de férias, indo para uma reunião com amigos ou familiares ou embarcando em uma viagem de negócios.
Entretanto, o transporte aéreo doméstico e internacional é também um método utilizado pelos traficantes de pessoas para transferi-las para as cidades e países onde serão exploradas para fins lucrativos.
Os funcionários das companhias aéreas e dos aeroportos têm papel fundamental a desempenhar na detecção de potenciais casos de tráfico, na assistência às vítimas e na ajuda às investigações, o que poderia levar ao desmantelamento das redes criminosas envolvidas ou à condenação dos principais perpetradores.
É essencial sensibilizar os assistentes de bordo, o pessoal em solo nos aeroportos e os passageiros para o tráfico de pessoas", diz Andrea da Rocha Carvalho Gondim, procuradora do Ministério Público do Trabalho.
Para atingir esse objetivo, o Brasil, juntamente com o UNODC e outros parceiros, lançou a iniciativa Liberdade no Ar.
Gondim, que processa casos de tráfico de pessoas relacionados à exploração do trabalho, diz ter tido a ideia do projeto após ler sobre uma comissária de bordo americana cujas ações levaram ao resgate de uma adolescente, acompanhada por um traficante no voo.
"Essa campanha é dirigida a potenciais vítimas, que são brasileiros que deixam o país, voando para outra cidade no Brasil ou estrangeiros que chegam ou transitam pelo nosso país", acrescenta.
Nesse projeto, que tem duração de quatro anos, os aeroportos de todo o Brasil estão transmitindo vídeos e distribuindo folhetos e histórias em quadrinhos.
Esse material multilíngue explica os truques dos traficantes, as razões pelas quais as pessoas se tornam vítimas desse crime e como o pessoal dos aeroportos e das companhias aéreas ou os passageiros podem tomar as medidas adequadas.
A Associação Brasileira de Defesa da Mulher, da Criança e da Juventude (ASBRAD) forneceu assessoria técnica na produção do conteúdo com base em sua experiência no campo do tráfico de pessoas.
As histórias apresentadas na campanha são inspiradas em casos reais e enfocam ofertas falsas de trabalho doméstico bem remunerado, um contrato de modelagem internacional e uma carreira como jogador de futebol que resultam em exploração sexual e trabalhista no Brasil e no exterior.
"É impossível dizer realmente quão difundido é o tráfico de pessoas no Brasil, porque faltam estudos oficiais atuais sobre esse tema", diz Graziella Rocha da ASBRAD.
"Entretanto, o maior número de casos identificados pelo governo são para fins de exploração de mão de obra em setores como a agricultura, a produção de vestuário e a construção civil".
"Os trabalhadores migram das regiões mais pobres do país para os estados mais ricos. Também temos notícias de migrantes bolivianos e haitianos sendo explorados no Brasil, bem como de mulheres chinesas", acrescenta.
Na próxima fase da "Liberdade no Ar", os funcionários da indústria aeronáutica brasileira receberão treinamento do UNODC sobre como identificar casos de tráfico de pessoas, intervir, alertar as autoridades aeroportuárias nos países de destino e encaminhar os casos para as autoridades competentes.
"Temos cooperado com companhias aéreas e aeroportos na identificação de vítimas, desde 2016, e realizamos treinamento em toda a América Central e do Sul", diz Carlos Perez, da Seção de Tráfico de Pessoas e Contrabando de Migrantes do UNODC.
Quando as vítimas são traficadas por meio de companhias aéreas, o controle do traficante pode ser direto ou indireto, explica Perez.
"Ou o traficante viaja com a vítima em um vôo comercial ou há um controle indireto. Isso significa que a vítima foi ameaçada de alguma forma, segue instruções precisas durante a viagem, tem medo de alertar as autoridades e, no destino, é atendida por um membro da rede criminosa".
Em alguns casos, os criminosos fornecem documentos fraudulentos para a viagem e os verdadeiros ou mesmo dinheiro são retidos pelo traficante na condição de que eles só serão devolvidos quando a vítima chegar, acrescenta.
O UNODC México já produziu um folheto para explicar os indicadores do tráfico de pessoas, que foi compartilhado em aviões e em aeroportos.
Tais sinais incluem indicadores de que os movimentos de uma pessoa estão sendo controlados, ele ou ela tem uma interação social limitada ou é incapaz de se comunicar livremente com outras pessoas.
O pessoal de check-in de vôo e os funcionários da alfândega são incentivados a procurar sinais de que um passageiro não sabe o endereço de sua casa ou local de trabalho ou não está de posse de seus documentos de viagem, que estão sendo mantidos por outra pessoa.
O UNODC planeja estender a distribuição desse material a outros países no futuro.
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Para saber mais: http://www.agenda2030.com.br/