Programa Embaixadores da Juventude luta pelo respeito às minorias

A embaixadora da juventude Thânisia Cruz quer atuar nas empresas contra o preconceito e o racismo: "Todos estão envolvidos" (foto: Minervino Junior/CB/D.A Press)

Brasília, 08 de março de 2019 - O espírito de liderança e o sonho de um país igualitário são o que move cerca de 70 brasilienses ativistas. Em busca de alcançar os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS), os Embaixadores da Juventude geram impacto social na capital, lutando, principalmente, pelas minorias. Todos, ainda que tenham realidades diferentes, compartilham de um ideal: reduzir as desigualdades e tornar Brasília e o Brasil em lugares sustentáveis.

O espírito de liderança e o sonho de um país igualitário são o que move cerca de 70 brasilienses ativistas. Em busca de alcançar os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS) (leia As metas), os Embaixadores da Juventude geram impacto social na capital, lutando, principalmente, pelas minorias. Todos, ainda que tenham realidades diferentes, compartilham de um ideal: reduzir as desigualdades e tornar Brasília e o Brasil em lugares sustentáveis.

A ideia de criar um curso de formação de ativistas no Distrito Federal surgiu a partir de uma experiência particular. A nigeriana radicada em Brasília Ruth Adelowoula, 25 anos, participou, em 2012, de uma conferência sobre uso e prevenção de drogas voltada para juventude, em Viena, na Áustria. Ao voltar do evento, projetou um curso para gerar oportunidades para jovens ocuparem espaços fora do Brasil. "Eu me senti muito insegura e despreparada; então, pensei que poderia existir um curso que capacitasse jovens para oportunidades como a que eu tive", conta a estudante de relações internacionais.

Rodrigo Araújo selecionou os embaixadores: "Buscamos jovens com perfis diferentes, para ser o mais plural possível" (foto: Minervino Junior/CB/D.A Press)

 

Ruth apresentou a ideia para a UNODC em 2015. "Quando eu falei para eles da minha ideia, na hora, eles aceitaram. Isso me ensinou a confiar mais em mim mesma. Jamais imaginei que uma ideia minha tomaria essa proporção e, hoje, os Embaixadores da Juventude abrem portas para dezenas de jovens", orgulha-se. "O conselho que eu tenho é de que, se alguém tem uma ideia, um sonho, deve correr atrás. Nunca pense que não é capaz. As pessoas enxergam a ONU como um organismo intocável, mas não é. Eu, com uma simples ideia, consegui gerar impacto na vida de 70 pessoas", comemora Ruth.

Observando o perfil dos participantes de fóruns e conferências internacionais, Ruth percebeu que esses ambientes são formados, principalmente, por brancos de classe média e alta. "Eu não queria ser a única mulher negra de periferia nesses espaços; então, os Embaixadores da Juventude surgiram como um curso para abrir as portas do mundo para pessoas como eu, de classe baixa, minorias. Para dar voz a quem não tem", diz a jovem.

A estudante saiu da Nigéria com a família aos 3 anos. Em busca de uma vida melhor, a jovem encontrou nos estudos uma forma de lutar pelo que acredita. "Eu quero ser boa em tudo o que me propuser a fazer e ter sucesso. As pessoas inspiram-se em mim, por eu ter tido experiências internacionais, ser negra e morar em Ceilândia. Eu quero sempre ser fonte de inspiração e lutar pelos meus pares", explica Ruth.

Nova York

A atuação pela defesa dos direitos humanos e pelo alcance dos ODS possibilitou a alguns dos jovens embaixadores debater sobre a luta de cada um e buscar soluções para o cenário local em um fórum nos Estados Unidos (EUA). A professora de francês e embaixadora da juventude Thânisia Cruz, 26 anos, é uma das selecionadas para o ECOSOC Youth Forum, em Nova York.

A brasiliense começou a batalha a favor dos direitos das negras e feministas desde muito nova. Thânisia cresceu em meio ao ativismo. Agora, ela realizará dois sonhos de um só vez: conhecer a cidade norte-americana e falar para o mundo sobre a causa que defende. "Eu nasci em uma família em que as formações são sempre para o cuidado. Meus pais, avós e tios tiveram uma educação compartilhada, na qual tudo que se aprende é passado para frente, nada é individualizado", revela a embaixadora da juventude.

Mesmo tendo uma atuação ativista antes de participar do programa de embaixadores, a professora procurou o curso para se inserir no sistema das Nações Unidas e, assim, poder alcançar novos públicos. "Tanto pessoalmente como profissionalmente eu amadureci muito a partir do programa. Aprendi uma linguagem mais acessível para falar com a população jovem. Não adianta ser ativista e ter embasamento se não tiver conhecimento linguístico para passar tudo isso para outras pessoas. Também aprendi muito sobre empatia, sobre como vender uma ideia", ressalta Thânisia.

Algumas atuações marcantes fazem a jovem alcançar uma posição de liderança. À frente do grupo de Articulação Nacional de Negras Jovens Feministas, idealizadora do Projeto Expresso Centro-Oeste, que busca o desenvolvimento socioeconômico sustentável e promove noções de autonomia e empoderamento, Thânisia causa impacto positivo em Brasília, principalmente em meio ao movimento de mulheres negras. "As pessoas me veem com um olhar de liderança; então, eu absorvo a ideia de que realmente sou uma liderança e, a partir disso, tenho consciência de que preciso ser mais responsável."

O principal objetivo de Thânisia é atuar em empresas para desconstruir preconceitos e racismos. "O racismo institucional é a maior problemática da constituição da sociedade brasileira. Pensamos que não estamos diretamente envolvidos, mas todos estão envolvidos. Eu preciso estar dentro dos espaços como uma pessoa qualificada para colaborar para que os espaços revejam onde estão cometendo o racismo", justifica.

O programa

A nigeriana radicada em Brasília Ruth Adelowoula em encontro nacional de jovens embaixadores: liderança (foto: UNODC/Divulgação)

Com o objetivo de formar jovens entre 18 e 24 anos para obter representatividade em espaços internacionais, o programa Embaixadores da Juventude, criado em Brasília, fortalece capacidades de liderança e ativismo por meio do desenvolvimento de competências pessoais, inter-relacionais, profissionais e do estímulo ao debate inclusivo e produtivo. A primeira edição do curso ocorreu em 2016.

Mesmo sem grandes divulgações, o projeto recebeu inscrições de 1.020 jovens brasilienses interessados na formação. Vinte e cinco desses inscritos foram selecionados. "Na seleção, nós priorizamos a distribuição de lugares, ou seja, pessoas de diferentes regiões administrativas. Também buscamos jovens com perfis diferentes, para ser o mais plural possível", detalha Rodrigo Araújo, assistente de projetos do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC). Hoje, 52% dos jovens embaixadores são mulheres negras.

O projeto tem os jovens como público-alvo por serem vulneráveis e por terem poder de articulação. "O jovem é uma população em risco, basta olharmos as estatísticas de faixa etária que mais morre no país. Por isso, o programa quebrou estereótipos. O processo de seleção revelou isso", afirma Alice Scartezini, gerente de responsabilidade socioambiental da Caixa Seguradora.

Além das edições de 2016 e 2017 em Brasília, o programa está em processo de expansão. Em 2018, uma turma foi capacitada em Salvador. Agora, os planos são para alcançar as regiões Norte, Sudeste e Sul e mais cidades do Nordeste. "Brasília é a nossa zona de conforto. Tem o fato positivo de ser a nossa casa, mas é essencial ter uma disseminação nacional. A expectativa é de que, no segundo semestre deste ano, a gente lance uma edição na Região Norte", menciona Rodrigo.