Empresas discutem avanços no combate à corrupção no Brasil
O coordenador da Transparência Internacional no Brasil, Bruno Brandão, participou dos debates em São Paulo. Foto: Pacto Global |
São Paulo, 1° de dezembro de 2016 - O Fórum Pacto Global, realizado no início de novembro (9) em São Paulo, reuniu representantes de empresas para discutir o papel do setor privado no combate à corrupção no Brasil.
O tema interfere diretamente em todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), pois as metas globais só poderão ser alcançadas com a devida destinação dos investimentos necessários.
Houve consenso entre os convidados do evento de que o problema não é algo novo e muito menos exclusivo do Brasil. E, apesar do cenário político atual de crise, há razões para se comemorar nessa área.
"Nos últimos anos, uma série de medidas criou condições para que o combate à corrupção se fortalecesse de uma forma que seria impossível há 15 ou 20 anos", disse o advogado Jorge Hage, professor da Escola Superior do Ministério Público do Distrito Federal e ex-ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU).
Entre as medidas, ele destacou a criação do Portal da Transparência (2004), da Lei de Acesso à Informação (2011) e dos sistemas de corregedorias e de ouvidorias, além do trabalho investigativo da imprensa, fundamental para uma maior fiscalização do pode público.
"O mais importante é que todas essas instituições começaram a atuar em conjunto, só então permitindo operações de grande impacto, como a Lava Jato", declarou.
Hage alertou ser preciso dar continuidade aos avanços conquistados: "os primeiros grandes desafios são o clima político radicalizado e o momento conturbado de transição". Do seu ponto de vista, o atual governo está dando sinais no mínimo contraditórios sobre a punição a envolvidos em escândalos.
Para o advogado, é necessário promover a reforma partidária, impedir o retorno do financiamento empresarial a campanhas eleitorais e, finalmente, enterrar o foro privilegiado. Na opinião dele, a exposição das investigações na mídia deve refletir positivamente no setor privado.
"Esses casos devem estimular as empresas a cuidar de seus programas de integridade corporativa", destacou.
O coordenador da Transparência Internacional no Brasil, Bruno Brandão, celebrou o fato de a entidade estar de volta ao país, em processo de abertura de um escritório em São Paulo. Em sua fala, Brandão desconstruiu a percepção de que a corrupção é um "produto nacional".
"Na Malásia, por exemplo, o primeiro-ministro destituiu o procurador que denunciou um caso de corrupção no alto escalão, enquanto aqui, mesmo com toda a pressão sobre o governo anterior, o Rodrigo Janot foi reconduzido ao cargo, mostrando como temos avançado", declarou.
Ele citou resultados do último relatório da organização, divulgado em junho, sobre a transparência no setor privado. A pesquisa envolveu 100 multinacionais de 15 países emergentes (com operação em 185 países), focando a divulgação dos programas anticorrupção e transparência organizacional.
Em uma escala de zero a dez, a média do mercado emergente ainda é baixa, de 3,4. No entanto, as 12 empresas brasileiras avaliadas melhoraram sua nota em relação à primeira edição do estudo, de 2013, com uma pontuação média de 3,5. A fabricante de aeronaves Embraer foi a mais bem posicionada, com nota 5.
As companhias chinesas tiveram o pior desempenho, enquanto as indianas ficaram em primeiro lugar. "Em pesquisas recentes com a população brasileira, esta foi a primeira vez que a corrupção foi apontada como principal ponto de preocupação", lembrou. "Hoje, o mercado exige cada vez mais transparência e governança".
Ursula Wynhoven, chefe de sustentabilidade social governança e integridade do Pacto Global, sustentou a importância da participação do empresariado no combate à corrupção. "Empresas não são ilhas. É essencial que saibamos compartilhar nossas experiências para ajudar a demonstrar a força do compromisso com a transparência e desenvolver as ferramentas necessárias", afirmou.
* Com informações da Agência ONU Brasil