UNODC debate estratégias para tratamento de pessoas que usam crack no Brasil
Tykanori e Franzini visitam área conhecida como cracolândia, no centro de São Paulo
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São Paulo, 23 de abril de 2014 - Delegações da Argentina, Brasil, Chile, Paraguai e Uruguai reuniram-se na primeira semana de abril em São Paulo para debater o uso de cocaínas fumáveis, como o crack e a pasta base.
O encontro foi marcado pela presença de autoridades como o Secretário Nacional de Políticas sobre Drogas, Vitore Maximiano, o Representante do Escritório de Ligação e Parceria do UNODC no Brasil, Rafael Franzini, o Secretário Executivo da Comissão Interamericana para o Controle do Abuso de Drogas da Organização dos Estados Americanos (CICAD - OEA), Paul Simons, o Prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, o Coordenador da Área Técnica de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas do Ministério da Saúde, Roberto Tykanori, além de importantes pesquisadores, acadêmicos, representantes dos governos dos países participantes e a sociedade civil.
Realizado com o apoio da Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad), do Departamento de Estado do Governo dos Estados Unidos e da OEA, o evento representou uma grande oportunidade na busca de soluções conjuntas para enfrentar os problemas e desafios apresentados pelo uso de cocaínas fumáveis, principalmente tendo em vista a preparação para a Sessão Especial da Assembleia Geral da ONU (UNGASS) sobre drogas, que está prevista para 2016.
Durante o evento, as delegações apresentaram as informações mais atualizadas disponíveis na área de análise de substâncias, em uma perspectiva de buscar entender do que estamos falando quando nos referimos aos tipos de cocaína fumada na região, o impacto do uso desta substância em relação à saúde, o perfil das pessoas que fazem uso destas substâncias, agravos associados (como aids, hepatites virais), evidências disponíveis no campo da prevenção e do tratamento.
"De Braços Abertos"
Uma das experiências apresentadas no encontro foi a do programa "De Braços Abertos", implementado pela Prefeitura de São Paulo na chamada cracolândia desde janeiro. Num espaço montado na Rua Helvetia, no centro da cidade, o programa já cadastrou quase 400 usuários de crack para receber moradia, trabalho, alimentação, atendimento de saúde e capacitação.
Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, 89% dos participantes tem frequentado regularmente o trabalho. No período de 14 de janeiro a 9 de março, foram realizadas mais de 4.996 abordagens, 776 atendimentos médicos e 457 encaminhamentos para serviços de saúde. Até o dia 26 de fevereiro, 213 pessoas iniciaram tratamento de saúde para desintoxicação. Os técnicos do programa destacam que uma cama e um banho faz muita diferença para essas pessoas e representa um primeiro passo para o estabelecimento de vínculos, que podem levar a oportunidades de mudanças nas suas vidas.
Além dos aspectos relacionados à vulnerabilidade social dos participantes, uma ação do Programa Municipal de DST/Aids de São Paulo permitiu o acesso à testagem rápida para HIV e sífilis de forma confidencial e voluntária, revelando a vulnerabilidade destas pessoas às DST. Entre os 218 participantes que aceitaram realizar testagem rápida para HIV, a prevalência foi de 4%. Entre as 144 pessoas que fizeram o teste de triagem para sífilis, a taxa de prevalência foi de 26,4%.
O UNODC e a CICAD - OEA visitaram o programa recentemente: "O que vimos ali não se trata de uma intervenção baseada na lógica punitiva ou coercitiva, mas sim na lógica do acolhimento e do resgate da dignidade de pessoas acostumadas a uma rotina de exclusão e violência, o que pode criar uma ponte entre esta dura realidade e o acesso não apenas a uma rede de saúde, mas também de promoção da cidadania", disse o Representante do UNODC, Rafael Franzini.
Ele destacou ainda que "experiências como essa demonstram que os problemas de espaços como a cracolândia extrapolam o campo da saúde. Portanto, somente uma ação articulada entre diferentes setores da gestão local pode permitir o avanço de uma resposta".