Oficinas de fotografia em presídios abrem diálogo sobre direitos humanos, gênero, saúde e violência no sistema prisional
Detentos do Presídio Central de Porto Alegre aprendem a usar as câmeras |
Porto Alegre, 2 de outubro de 2013 - "Parecia que a gente estava solta", disse uma jovem grávida, apenada da Penitenciária Feminina Madre Pelletier, ao fim do primeiro dia de uma oficina de fotografia realizada no local pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), em parceria com o Ministério da Saúde e o SENAC/RS, e com apoio da Delegação da União Européia no Brasil.
Os outros 13 participantes da oficina - entre eles detentas e funcionários das áreas de saúde, administração, segurança e assistência social da penitenciária - concordaram com essa impressão. Vida, solidariedade, conhecimento, liberdade, diversão, criatividade e inspiração foram algumas das palavras escolhidas pelo grupo para representar aquele dia.
A oficina de fotografia na Madre Pelletier foi apenas a primeira atividade de um novo projeto do Escritório de Ligação e Parceria do UNODC no Brasil, que tem como objetivo desenvolver uma metodologia de capacitação e sensibilização sobre direitos humanos no sistema penitenciário. A proposta é utilizar imagens que retratem situações de vulnerabilidade relacionadas à promoção e/ou à violação de direitos humanos no cotidiano das prisões para promover uma discussão sobre o assunto, com foco em questões de gênero, violência e saúde, mais especificamente na prevenção da aids, das hepatites virais e da tuberculose.
Detenta fotografa a maternidade da penitenciária feminina |
Para isso, o projeto começa com uma oficina de fotografia de dois dias, na qual os participantes têm a chance de expressar seus olhares sobre o ambiente prisional, através da captura de imagens que representem as percepções e os sentimentos de quem vive o cotidiano dos presídios brasileiros. As atividades envolvem tanto detentos quanto profissionais que trabalham nos presídios, para promover a troca de experiências entre estes dois grupos que compartilham diariamente espaços internos específicos, mas com perspectivas e papéis radicalmente diferentes.
No primeiro dia da oficina, os participantes aprendem noções básicas de fotografia e recebem câmeras digitais para registrar qualquer lugar, objeto ou pessoa que tenha um significado para eles, dentro dos ambientes em que vivem, circulam e trabalham nos presídios. "As fotos serviram pra gente mostrar nossos sentimentos, nossas alegrias e tristezas, registrar fotos que mostrem esses nossos momentos. A maioria das fotos feitas aqui hoje é feliz, nem parece que é de um presídio", explicou uma outra apenada do Madre Pelletier, também grávida. No segundo dia da oficina, os participantes analisam e selecionam suas fotos.
Detento fotografa seu local de trabalho na área administrativa da prisão
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Além da penitenciária feminina, o Presídio Central de Porto Alegre também recebeu as primeiras oficinas de fotografia do projeto, realizadas entre o fim de agosto e o começo de setembro. No Presídio Central, os participantes foram divididos em dois grupos: um de funcionários e outro de apenados, incluindo uma representante da ala específica para gays e travestis. Ao final do primeiro dia, um dos detentos destacou o aspecto lúdico da oficina: "Nós temos hábitos diários muito rígidos, isso quebrou nossa rotina".
As imagens produzidas pelos participantes serão utilizadas na segunda etapa do projeto, que acontece esta semana nos dois presídios de Porto Alegre. Em mais um encontro de dois dias com os participantes, será realizada uma discussão sobre direitos humanos a partir das fotografias selecionadas, que servirão para abrir um espaço de diálogo sobre as relações e percepções entre pessoas encarceradas e profissionais do sistema prisional, abordando conceitos e diretrizes sobre gênero, vulnerabilidades, promoção à saúde, prevenção de doenças e violência.
Dentista fotografa a área externa dos pavilhões do Presídio Central
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Além disso, o acervo de fotografias resultante das oficinas poderá ser exposto em exibições nas penitenciárias participantes. O UNODC espera também levar o projeto para unidades prisionais de outros estados no Brasil.
No âmbito do Ministério da Saúde, a realização das oficinas conta com o apoio do Departamento de Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST), Aids e Hepatites Virais, do Programa Nacional de Controle da Tuberculose e da Área Técnica de Saúde no Sistema Penitenciário.
A iniciativa também conta com a parceria do Núcleo de Educação Profissional do SENAC/RS, da SUSEPE e do Programa Municipal de DST/Aids. Esta ação também está inserida no âmbito do Plano Integrado das Nações Unidas para o enfrentamento da epidemia de HIV/aids no município de Porto Alegre - AIDS Tchê.
Informação relacionada:
Guia sobre gênero, HIV/Aids, coinfecções no sistema prisional