Crianças de Bangladesh aprendem na escola sobre o tráfico de pessoas
7 de junho de 2010 - Seis dias por semana, a jovem Anima, de 10 anos, caminha um quilômetro para a única escola primária de sua aldeia, em Bangladesh. Ela caminha descalça, com uma mochila rasgada pendurada nos ombros. O pai dela trabalha em uma pedreira próxima à vila e mãe trabalha no campo. Ultimamente, a irmã dela, de cinco anos, também a acompanha à escola. Elas enfrentam um calor escaldante e estradas de pedra e cheias de poeira para chegar à escola todos os dias. A sala de aula é pequena e há apenas duas janelas, uma velha mesa, uma cadeira e um quadro negro improvisado. Cerca de 100 crianças, com idades entre 5 e 12 anos assistem às aulas nessa única sala. Frequentar a escola pode ser algo comum nos centros urbanos, mas, nessa aldeia remota, é um feito notável.
As crianças se sentam no chão, com os livros abertos no colo e escutam o diretor da escola, que é de Calcutá, na Índia. Ele dedica seu tempo a ajudar as crianças a não apenas permanecer na escola e completar sua educação, mas também fala com elas sobre tráfico de seres humanos, explicando porque esse crime ocorre, suas causas, quem são as vítimas potenciais e como tomar medidas preventivas.
O diretor explica: "Há vários relatos de casos nesta vila, com meninas de até cinco anos de idade tendo sido traficadas ou vendidas por famílias". Elas se tornam vítimas de exploração sexual e trabalho forçado na província indiana de Bengala Ocidental. Aproximadamente sete mil meninas e mulheres são traficadas a cada ano de Bangladesh para Bengala Ocidental. Se quisermos acabar com esse crime, temos de ensinar as crianças sobre o tráfico de pessoas desde cedo para que elas não se tornem vítimas".
Anima é a cabeça da turma. De pé, em frente de seus colegas, ela os incentiva a recitar em coro um poema na língua local. O poema aborda o crime hediondo do tráfico de seres humanos e como as crianças são vulneráveis, mas não impotentes para agir. Além disso, Anima, explica para a classe: "devemos recusar a falar com estranhos, especialmente os homens. Se alguém nos oferece doces e a oferta de uma vida boa, devemos informar isso aos mais velhos ou a polícia. Os traficantes tentam atrair crianças como nós. Somos vendidas a bordéis, sexualmente exploradas e abusadas. Somos obrigadas a trabalhar em casas ou em fábricas, sem comida e sem dinheiro. Não é isso que queremos. Queremos ser educados e conscientes". A sala se enche de palmas.
"As crianças são sempre os melhores professores", diz o diretor. Ele acredita que eles estão em uma posição privilegiada para ajudar a divulgar informações sobre essas questões e a sensibilizar toda a comunidade. Essas iniciativas, nas quais as mensagens de conscientização são incorporadas aos currículos escolares, ajudam as crianças a crescer com segurança e sabedoria em um mundo repleto de perigos.
O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), em parceria com a Ação Contra o Tráfico e Exploração Sexual de Crianças da Índia, uma rede de ONGs que trabalham na prevenção do tráfico de seres humanos, apoia essa iniciativa no âmbito de um projeto do UNODC de prevenção do tráfico de seres humanos, com a contribuição da Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional.
O tráfico de seres humanos no sul da Ásia é muitas vezes citado como um dos crimes que mais cresce no âmbito do crime organizado transnacional. Todos os anos, mais de 150 mil pessoas são traficadas na região para exploração sexual, trabalho forçado, casamentos arranjados e comércio de órgãos. Países do sul da Ásia, inclusive Bangladesh, servem como origem, trânsito e destino para o tráfico de mulheres, crianças e homens. No sul da Ásia, a maior parte das vítimas de tráfico é de mulheres, mas o tráfico de crianças é também uma grande preocupação. Com o aumento da procura de serviços domésticos nas cidades, as famílias de moradores rurais, muitas vezes de forma voluntária, entregam seus filhos a intermediários que prometem uma vida melhor nas cidades.
Além do apoio a iniciativas locais realizadas por ONGs, o UNODC também fornece assistência técnica e assistência financeira a projetos voltados para a prevenção e repressão do tráfico de seres humanos na região.
Informações adicionais:
UNODC e tráfico de seres humanos e contrabando de migrantes
UNODC no Sul da Ásia