Programa vai capacitar e oferecer o primeiro emprego a jovens vivendo com HIV/aids
5 de novembro de 2009 - Conviver com o HIV e a aids é uma situação vivenciada também entre crianças e adolescentes brasileiros. Do total de casos acumulados de aids no Brasil, 11,5% são de jovens entre 13 e 24 anos. São pessoas que, de um modo geral, adquiriram o vírus na transmissão de mãe para filho, ou por uma relação sexual sem proteção. Se tiverem um diagnóstico rápido, são crianças e adolescentes que, com o uso dos novos medicamentos disponíveis, irão atingir a idade adulta, terão sonhos e expectativas como todas as outras pessoas.
Como qualquer jovem brasileiro, uma das principais dificuldades que enfrentam os jovens vivendo com HIV/aids é encontrar o primeiro emprego. Para ajudá-los nesse desafio, o Departamento de DST/Aids e Hepatites Virais do Ministério da Saúde, a ONG Pact Brazil e a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) se uniram, com o apoio do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), do UNICEF, do UNAIDS, do UNFPA e do UNIFEM, para promover um programa de formação de jovens líderes vivendo com HIV/aids.
O programa é inovador porque tem um duplo significado. Por um lado, objetiva aproximar os jovens vivendo com HIV/aids da execução de ações governamentais e não governamentais que compõem a resposta brasileira de enfrentamento à epidemia de aids. Por outro lado, busca ampliar o protagonismo desses jovens, oferecendo a eles um emprego fixo, com carteira assinada, durante 11 meses, nos serviços de saúde e em ONGs de seus municípios. De acordo com a assessora técnica do Departamento de DST/Aids Ana Paula Prado, a bagagem que os jovens vão adquirir com a formação será utilizada no trabalho deles nos serviços, servindo também para estimular o envolvimento deles nos espaços de mobilização nas cidades onde moram - e, de certa forma, também a articulação desses jovens nacionalmente.
Nesta edição, 22 jovens entre 16 e 24 anos, de várias partes do país, foram selecionados. Eles vieram a Brasília para as atividades iniciais do programa, onde puderam se conhecer, trocar experiências, aprender sobre os serviços e receber as orientações sobre os direitos e deveres que terão durante o programa.
Um desses jovens é Alexandre Câmara. A fisionomia alegre e jovial contrasta com seu discurso sério e experiente, de quem, aos 23 anos, já é um veterano no campo de prevenção e de atendimento a quem vive com o vírus. Expulso de casa aos 14 anos por conta sua orientação sexual, Alexandre vive sozinho há nove anos em Vila Velha, no Espírito Santo. Ele trabalha como redutor de danos, atendendo a pessoas que vivem em situação de extrema vulnerabilidade: usuários de drogas, profissionais do sexo e moradores de rua. "Meu jeito de conversar com todo o mundo de igual para igual faz com que as pessoas me aceitem e escutem o que eu tenho a dizer", explica Alexandre. "E assim fico muito feliz de sentir que realmente estou ajudando os outros".
Um dos planos de Alexandre é escrever um livro com as mais de 80 histórias que coleciona das pessoas que conheceu e conviveu. Ele, que já foi usuário de drogas, se emociona ao contar um episódio no qual atendeu a uma avó de 74 anos e seu neto de 6 anos, ambos usuários de crack. "Quando escuto algumas histórias, acho que a minha não é tão difícil quanto pensei". Ainda assim, ele diz que a última história de seu livro será a sua própria.
A paraibana Ana Maria Pereira, de 23 anos também participa do programa. Por conta do envolvimento com um namorado, começou a usar crack e chegou a pesar 27 quilos, quando foi internada com o estado de saúde bastante comprometido. Ela conta que a decisão de se recuperar foi tomada quando ouviu filho dela dizer: "você não era assim. Ficou desse jeito por causa do seu namorado". Como uma exceção à regra, Ana Maria conseguiu sair da situação de dependência sozinha, sem precisar recorrer a tratamento. Diante de todos os desafios que enfrentou, Ana Maria sentiu que poderia colaborar com ações de mobilização social para ajudar outras pessoas que, como ela, vivem e convivem com o HIV.
Mesmo com histórias distintas, todos os jovens participantes têm em comum a vontade de fazer algo por si próprio e pelos outros. Para Lilia Rossi, diretora da ONG Pact Brazil, além de auxiliar para a formação e o envolvimento dos jovens em suas comunidades, esse programa contribui para os jovens se sentirem valorizados. Dessa maneira, eles começam a se sentir como os verdadeiros protagonistas de sua própria história.