Drogas e HIV: vozes de esperança na Índia
25 de setembro de 2009 - Assam, Meghalaya, Angolans, Manipur e Mizoram são nomes de cinco dos oito estados do nordeste da Índia que ficam espremidos entre Bangladesh, Butão, China, Mianmar e Nepal. Esses estados mostram a beleza natural existente no leste indiano. Conhecidas mundialmente pela produção do chá, essas regiões remetem a imagens exuberantes, como colinas verdejantes e arrozais, onde as mulheres pegam folhas de chá e as famílias cultivam arroz.
Mas há outras realidades da região que são pouco conhecidas. Cerca de 100 mil pessoas convivem com HIV e AIDS no nordeste da Índia. No começo de setembro, uma equipe das Nações Unidas viajou para a região, onde, em conjunto com a Organização Nacional de Controle da AIDS, realiza programas de prevenção e de atendimento a pessoas com HIV/aids. O índice em adultos infectados pelo vírus e as taxas de prevalência da doença em Manipur e Nagaland são de 1,57% e 1,2%, respectivamente, índices bem acima da média nacional, que é de 0,34% segundo o Departamento de Controle da AIDS, do Ministério da Saúde e Assistência Social do Governo da Índia.
As taxas são alarmantes dentro do grupo de risco: em Manipur, 19,8% dos usuários de drogas injetáveis são soropositivos, ao passo que esse número é de 10,4 % dentro do grupo de homens que mantêm relações sexuais com pessoas do mesmo gênero. Em Nagaland, 16,4% dos trabalhadores do sexo feminino são portadores do vírus HIV e convivem com a AIDS. Embora a prevalência nacional da doença tenha diminuído desde 2002, não houve uma redução semelhante no nordeste do país. Embora intervenções relacionadas a drogas injetáveis tenham causado impacto, as taxas de prevalência se mantêm bem acima da média nacional, de 6,9%. Esses números mostram que há muito ainda a ser feito na região.
Durante a missão conjunta, as equipes do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/aids (UNAIDS), do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e do UNODC ouviram os usuários de drogas de ambos os sexos, que agora recebem o apoio das Nações Unidas.
As pessoas contaram suas histórias e relataram como elas tiveram contato com drogas e como lidam com isso atualmente. Um ex-usuário de heroína se pergunta como um amigo o fez ficar viciado em apenas três dias de uso. No momento da visita, ele era paciente do primeiro centro de tratamento com base em substituição, coordenado pela Associação Voluntária de Saúde do Meghalaya. A Associação atende cerca de 150 pacientes desde 2006, a quem fornece a buprenorfina, um opiáceo semi-sintético por via oral, para o tratamento da dependência de heroína.
Embora muitos pacientes tenham falado abertamente sobre repetidas recaídas e sobre a frustração que as acompanha, estavam convencidos de que o tratamento a base de buprenorfina os ajudou a levar uma vida normal e produtiva, incluindo emprego, relações familiares confiáveis e uma vida livre de HIV e de hepatite. Eles estavam aliviados com o fato de que não tinham que se preocupar com como arranjar drogas. Ultimamente, no entanto, eles também querem se ver livres da buprenorfina, objetivo que, segundo o médico da Associação de Assistência Médica e Psicossocial para Usuários de Drogas em Recuperação, é viável.
Mulheres usuárias de drogas, cujas vozes são raramente ouvidas, por conta da percepção global de que essa questão afeta prioritariamente os homens, também compartilham suas histórias. Uma delas fala sobre como se voltou às drogas para lidar com a perda dos pais. Disse que era difícil para ela e para outras mulheres, em situação semelhante, falar sobre o vício e a procurar por ajuda. O médico da Fundação Meghalaya Manbha, que atende as mulheres, relatou que elas tendem a se sentir mais à vontade nos centros de saúde do que em centros de acolhimento.
As vozes destes homens e mulheres no nordeste da Índia precisam ser ouvidas pelos políticos, por agentes da articulação dos programas das Nações Unidas e por outras agências de cooperação. Tendo estas histórias em mente, os prestadores de serviços serão capazes de desenvolver e implementar programas em larga escala voltados àqueles que são vulneráveis e necessitam de tratamento.
O trabalho das Nações Unidas no nordeste da Índia, com o apoio da Organização Nacional de Controle da AIDS e da Sociedade de Estado de Controle da AIDS, é possível graças à contribuição da Agência Australiana para o Desenvolvimento Internacional (AusAID), ao Departamento para o Desenvolvimento Internacional do Reino Unido, Grã-Bretanha e Irlanda do Norte e à Agencia Sueca de Cooperação Internacional para o Desenvolvimento.