Médico do UNODC fala sobre o trabalho com mulheres usuárias de heroína no Afeganistão
27 de julho de 2009 - O Afeganistão produz cerca de 90% do ópio do mundo e vem se tornando a nação que mais cultiva a papoula. Essa expansão do plantio, juntamente com o conflito, o deslocamento, as dificuldades econômicas e a produção excessiva de ópio deixam uma sociedade devastada pela dependência de drogas no país. A situação é agravada pelo fluxo de refugiados afegãos que retornam do Irã - muitos dos quais se tornaram dependentes de heroína durante o refúgio.
A prevalência do abuso de drogas no Afeganistão, incluindo uma aparente migração para o uso de opiáceos e farmacêuticos mais potentes, é um desafio significativo da saúde pública, que vem sugando recursos sociais e governamentais. A maior disponibilidade de heroína mudou os padrões de consumo da droga no Afeganistão e em países vizinhos: do tradicional fumo e da ingestão por via oral para a injeção, o que aumenta o risco de transmissão do HIV pelo uso de seringas não esterilizadas.
O médico e agente do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) Mohammad Tariq possui vasta experiência no controle de doenças infecciosas. Atualmente, ele ajuda a prevenir a propagação do HIV entre usuários de drogas injetáveis e mulheres presidiárias. Tariq coordena um programa, financiado pelo Governo da Noruega, que atende mulheres usuárias de drogas injetáveis nas comunidades e prisões, incluindo as envolvidas em prostituição e as casadas com usuários de drogas injetáveis. Refugiados em países vizinhos e afegãos repatriados que injetam drogas também são alvos da missão.
Tariq provê assistência a mulheres em situação de vulnerabilidade na prevenção da violência e ajuda ONGs a oferecerem diversos serviços psicológicos e sociais necessários. Além disso, o médico e agente do UNODC trabalha com as organizações não-governamentais para desenvolver programas de alerta sobre os males do uso de drogas na infância, encorajando as mães a não darem ópio aos filhos. Anteriormente, Tariq ajudou a implementar o programa nacional de imunização do Afeganistão e trabalhou para outras ONGs na prevenção e no tratamento de tuberculose, malária, HIV/Aids e complicações relacionadas. Em entrevista ao UNODC, ele fala sobre sua atuação.
Como o senhor ajuda mulheres vulneráveis a lidarem com a violência?
Nós fornecemos informação e educação sobre os direitos humanos fundamentais das mulheres. Nossa equipe trabalha com assistentes sociais que atendem indivíduos, grupos e familiares em sessões de aconselhamento para levar mensagens-chave à comunidade.
No trabalho com mulheres usuárias de drogas, que atividade o senhor considera mais importante?
Antes de o UNODC apoiar este projeto, praticamente não havia nenhuma intervenção no país para resolver os problemas das mulheres toxicodependentes e das presidiárias. O UNODC assumiu a liderança e é uma das poucas organizações trabalhando nessas questões. Eu fui escolhido como oficial de programa para esta nova iniciativa. Então, cada passo que dou para a execução dos projetos, desde a assinatura do contrato, a busca por casos de mulheres que usam ou não drogas injetáveis, a prestação de serviços para o registro dessas mulheres e as primeiras intervenções em presídios femininos são as atividades que mais me orgulham.
Por que as crianças recebem ópio e como o senhor lida com essa questão?
Em algumas partes do país, especialmente no Norte, o uso de ópio tradicional é comum entre mulheres. Elas são geralmente tecelãs de carpete - uma atividade cansativa que causa dores nas articulações. Para aliviar a dor e o cansaço, elas usam ópio. A maioria dessas mulheres está na faixa etária reprodutiva e também tem filhos. Com o intuito de acalmá-los, para poderem, assim, trabalhar, elas lhes dão ópio. O ópio também é usado para aliviar a tosse, dor e diarreia dos filhos. Como essas crianças são vítimas do pouco conhecimento de suas mães, nossos assistentes sociais sensibilizam os indivíduos, grupos e famílias sobre os malefícios do consumo da droga nas sessões de aconselhamento.
Qual é o papel do Governo do Afeganistão na ajuda a mulheres usuárias de drogas, incluindo as envolvidas com prostituição e as casadas com usuários?
O Governo está planejando fazer uma auditoria de gênero do programa nacional de HIV e estratégias relacionadas, além de implementar um guia de orientações para proporcionar igualdade de acesso aos serviços tanto a mulheres usuárias de drogas como a seus maridos.