JIFE: cada dólar gasto em prevenção pode economizar até dez dólares

Viena, 4 de março - Apenas um em cada seis usuários problemáticos de droga em todo o mundo - cerca de 4,5 milhões de pessoas - recebe o tratamento que ele ou ela precisa, a um custo global de aproximadamente 35 bilhões de dólares por ano, diz a Junta Internacional de Fiscalização de Entorpecentes (JIFE), sediada em Viena, no seu Relatório Anual para 2013, lançado hoje em Londres.

Heroína, cannabis e cocaína são as drogas mais utilizadas por pessoas que iniciam o tratamento em todo o mundo. O presidente da JIFE, Raymond Yans, observa que o investimento em prevenção e tratamento é uma "opção de investimento" sábia, pois pode levar a economias significativas em cuidados de saúde e custos relacionados com o crime, além de aliviar o sofrimento das pessoas dependentes de drogas e suas famílias.

Cada dólar gasto em prevenção pode aconomizar até dez dólares em custos posteriores para os governos. O relatório da JIFE revela disparidades regionais significativas na oferta de tratamento: na África, apenas um em cada 18 usuários problemáticos de drogas recebe tratamento. Na América Latina, no Caribe e no Sudeste da Europa, um em cada 11 usuários problemáticos de drogas é tratado, enquanto que na América do Norte esse número é de um em cada três.

O abuso de medicamentos é uma grande ameaça à saúde pública, superando as taxas de abuso de drogas ilegais em alguns países - a JIFE alerta para a ampla disponibilidade de medicamentos sob prescrição

"Dias de devolução" como parte das iniciativas de eliminação segura de medicamentos prescritos são importantes, mas não o suficiente para combater a tendência crescente de abuso de medicamentos, causada pela ampla disponibilidade dessas substâncias, diz o presidente da JIFE . "Há uma percepção errônea de que medicamentos são menos suscetíveis ao abuso do que drogas 'ilícitas'".

O ambiente familiar é a principal fonte de medicamentos que não são mais necessários ou utilizados para fins médicos, posteriormente desviados para o abuso. Pesquisas mostram que uma percentagem significativa de pessoas que abusam de medicamentos obteve a droga pela primeira vez a partir de um amigo ou membro da família, que havia adquirido o remédio legalmente.

O abuso de medicamentos é uma ameaça grave e crescente para a saúde pública na América do Norte, que é a região com a maior taxa de mortalidade relacionada a drogas no mundo. O relatório da JIFE diz que o abuso de medicamentos só pode ser resolvido se forem abordadas as causas principais da oferta excessiva, como a prática de ir a vários médicos ao mesmo tempo para conseguir mais de uma receita para a mesma substância ("doctor-shopping"), a prescrição excessiva por profissionais médicos e a falta de controle na emissão e arquivamento de prescrições.

Tendências regionais - "drogas legais", legislação da cannabis e deterioração do problema da droga no Afeganistão

Um número sem precedentes de variedades de novas substâncias psicoativas (NSP), muitas vezes vendidas como "sais de banho", "drogas legais" ou "plant food", são um grande desafio não só na Europa, mas cada vez mais em outras regiões e em países em desenvolvimento. Esta tendência crescente coloca desafios para as autoridades de regulação e fiscalização. O grupo de Peritos em Dependência Química da Organização Mundial de Saúde (OMS) deve analisar mais de 20 novas substâncias psicoativas em seu 36º encontro, em junho de 2014.

A América Central e o Caribe continuam a ser afetados pelo tráfico de drogas e pelos altos níveis de violência relacionados a drogas, enquanto a fabricação ilícita de metanfetamina em larga escala é um motivo de preocupação. A região continua a ser uma rota de trânsito importante para a cocaína em direção à América do Norte e à Europa; estima-se que mais de 90% de toda a cocaína traficada para os Estados Unidos seja de origem colombiana e transite pelo México e pelo corredor da América Central.

Em geral, houve um aumento global no tráfico de opiáceos na África. O aumento de 10 vezes nas apreensões de heroína na África Oriental torna esta sub-região, possivelmente, o maior hub da África para a heroína traficada com destino aos mercados europeus. A heroína está transitando na África Ocidental com mais frequência, destinada principalmente para a Europa, mas também traficada para o sul do continente. Há também um potencial na África para a expansão do mercado interno de cocaína, embora o abuso de cannabis continue a ser elevado, quase o dobro da média global.

Os desenvolvimentos recentes na legalização da cannabis para uso recreativo nas Américas, nos estados de Colorado e Washington nos EUA, e no Uruguai, continuam a ser um motivo de preocupação para a Junta. O presidente da JIFE afirma: "Quando os governos consideram as suas políticas futuras sobre isso, a principal preocupação deve ser a saúde e o bem estar da população a longo prazo".  A Junta aponta que tal legislação viola as disposições da Convenção de 1961, que limita o uso de cannabis apenas para uso médico e científico.

A América do Norte é a região com a maior taxa de mortalidade relacionada a drogas no mundo, com o abuso de medicamentos representando uma ameaça grave e crescente para a saúde pública. A América do Sul atingiu o nível mais baixo em cultivo ilícito de coca desde 1999. O cultivo diminuiu de cerca de 153.700 ha em 2011 para 133.700 ha em 2012.

A produção e a procura de heroína no Leste e Sudeste da Ásia continua a ser uma grande preocupação para a JIFE. Só a China relatou ter cerca de 1,3 milhões de abusadores de opióides registrados em 2012. Este aumento de procura na China pode estar dirigindo o aumento da demanda de heroína produzida no resto da região.

O Afeganistão tem um sério problema com drogas, com o cultivo ilícito da papoula do ópio estabelecendo novos recordes em 2013: 209.000 ha, um aumento de 39% em comparação com os 154.000 ha de 2012. O país continua a ser o centro da produção ilegal de heroína e sua importância como fonte de resina de cannabis para os mercados mundiais está crescendo. Esta situação põe em risco os objetivos dos tratados internacionais de controle de drogas, afirma o Relatório da JIFE.

A Junta apela à ação de cooperação internacional para resolver a situação e salienta que a erradicação da papoula de ópio ilícita só pode ser alcançada se as leis pertinentes forem plenamente respeitadas e implementadas, enquanto meios de subsistência alternativos sustentáveis ​​forem fornecidos nas áreas afetadas.

O cultivo ilícito de cannabis, tanto em residências particulares quanto em plantações maiores, está aumentando na Europa, facilitada pela venda de sementes e equipamentos através da Internet em alguns países. A produção ilícita de cannabis em larga escala é em grande parte executada pelo crime organizado, mas em alguns países, como o Reino Unido, há também um movimento em direção ao cultivo ilícito de cannabis  em múltiplos locais com pequena escala de produção.

A cannabis é também a droga mais citada entre os admitidos para tratamento de abuso pela primeira vez na Europa Ocidental e Central. As novas substâncias psicoativas (NSP) são um fenômeno emergente no Leste e Sudeste da Europa, onde elas começaram recentemente a ter um impacto. Embora essas substâncias sejam transportadas principalmente da Ásia para posterior processamento, embalagem e distribuição na Europa, há indícios de fabricação limitada na Europa também.

A rota dos Balcãs continua a ser o caminho mais utilizado para o tráfico de drogas na sub-região, embora a quantidade de heroína traficada tenha diminuido no ano passado. As rotas de tráfico de cocaína para a Europa são diversificadas, com uma parte do tráfico vindo através dos países bálticos ou ao longo da rota dos Balcãs; ultimamente, o tráfico através dos portos do Mar Negro tem aumentando.

A Oceania é a única região em que as apreensões de todos os principais tipos de drogas (estimulantes do tipo anfetamina, cannabis, opiáceos e cocaína) aumentaram recentemente, principalmente na Austrália.

Não há drogas sem produtos químicos: relatório sobre precursores da JIFE mostra o sucesso no controle internacional e revela desafio de novas fontes de abastecimento

O sucesso na redução do desvio de precursores químicos (frequentemente utilizados na fabricação ilícita de drogas) do comércio internacional a níveis insignificantes demonstra que as lacunas nos controles em nível nacional estão sendo cada vez mais exploradas por organizações criminosas para acessar o fornecimento de produtos químicos necessários para produzir drogas ilícitas, alerta a JIFE.

Os traficantes também estão investindo no potencialmente vasto conjunto de produtos químicos não controlados, muitas vezes feitos sob medida para contornar a eficácia do controle internacional. O Relatório de Precursores da JIFE identifica as tendências mais marcantes no tráfico de precursores químicos e medidas práticas que os governos devem tomar para negar às organizações criminosas os produtos químicos que eles necessitam para a fabricação de drogas de abuso.

Material relacionado

Texto completo do Relatório Anual 2013 da JIFE (em espanhol ou em inglês)

Resumo das referências à Argentina no relatório (em espanhol)

Resumo das referências ao Brasil no relatório (em português)

Resumo das referências ao Chile no relatório (em espanhol)

Resumo das referências ao Paraguai no relatório (em espanhol)

Resumo das referências ao Uruguai no relatório (em espanhol)

Press kit global (em português, em espanhol ou em inglês)

Site com informações sobre o lançamento global (em inglês)

Contato para imprensa

Unidade de Comunicação

Escritório de Ligação e Parceria do UNODC no Brasil 

Tel: (+55 61) 3204-7228 

juliana.espanhol@unodc.org 

Todas as notícias