Relatório prevê estabilidade na colheita do ópio no Afeganistão

Photo:UNODC10 de fevereiro de 2010 - Em um relatório divulgado nesta quarta-feira (10), o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) projeta uma tendência de estabilidade no cultivo de papoula no Afeganistão neste ano, em termos de hectares plantados, e uma possível diminuição na produção do ópio, em termos de número de toneladas. "Há uma boa chance de que o Afeganistão produza menos ópio este ano", disse o Diretor Executivo do UNODC, Antonio Maria Costa. O ópio afegão é a matéria-prima para a droga mais mortífera do mundo - a heroína - e uma das principais fontes de receita para as forças insurgentes no Afeganistão e nos países vizinhos.

O relatório Avaliação Rápida de Inverno do UNODC (disponível em inglês) é baseado em pesquisas feitas sobre as intenções dos agricultores no momento do plantio. Essa avaliação oferece um indicativo inicial sobre o que se espera em relação à colheita de papoula no Afeganistão em 2010.

O cultivo da papoula no Afeganistão diminuiu em um terço (36%) nos últimos dois anos, passando de recorde de 193.000 hectares em 2007 para 123.000 hectares. A provável estabilização do cultivo em 2010, se confirmada, reforçará os progressos alcançados nos últimos anos.

É ainda mais significativo o fato de que, em 2010, a produção de ópio diminuir. Recentemente, os agricultores afegãos têm conseguido excelentes resultados em termos de produtividade com o ópio: 56 quilogramas por hectare, muito maior do que, por exemplo, o índice de 10 quilogramas por hectares do chamado "triângulo dourado", no Sudeste da Ásia. O mau tempo verificado durante a atual temporada pode reduzir a produtividade da safra este ano e, portanto, também deverá reduzir o volume em toneladas do ópio produzido no país. Essa tendência de queda deverá continuar, seguindo a diminuição da produção de 8.200 toneladas em 2007 para 6.900 toneladas no ano passado.

O número de províncias livres de papoula deverá se manter estável, ou até aumentar. Das 20 províncias afegãs que cultivavam a papoula em 2009, apenas 17 deverão continuar com a produção. Três províncias do Norte do país (Bahglan, Faryab e Saripul) mostraram sinais de que podem perder a condição de ser livre da papoula, devido a um pequeno aumento no cultivo em áreas menos seguras. Entretanto, cinco províncias (Kunar, Nangarhar, Cabul, e Laghman Badakshan) onde havia cultivo de papoula no ano passado podem alcançar o status de estar livres da papoula em 2010.

"Peço ao governo afegão e à comunidade internacional para focar atenção especial sobre para as oito províncias onde o cultivo do ópio é insignificante, embora ainda não estejam livres da papoula", disse Costa. "Com medidas apropriadas focadas nas comunidades locais, tais como campanhas realizadas em consulta com os líderes locais e com a oferta de alternativas ao desenvolvimento, três quartos do país (25 das 34 províncias) poderiam se tornar livres de papoula em futuro próximo", disse Costa.

Desde 2007, o próprio mercado tem desempenhado um papel importante em influenciar as decisões dos agricultores contra o cultivo de ópio. E esse fator ainda se mantém: no sudoeste do país, região na qual a maior parte do ópio é cultivada, um quarto dos agricultores apontou os baixos preços e o fraco rendimento como as principais razões para não plantarem a papoula este ano. No entanto, a tendência de preços está começando a se inverter. O preço dos cultivos lícitos, como o trigo, que diminuiu 43%, está caindo mais rapidamente do que o preço do ópio (que caiu 6%). "O impulso a outros cultivos é de fundamental importância para ajudar os agricultores afegãos a encontrar alternativas de renda ao ópio", disse Costa.

O Diretor Executivo do UNODC sublinhou também a necessidade de uma boa governança. O relatório mostra que nas regiões do país onde o governo tem maior capacidade de fazer cumprir a lei, grande parte dos agricultores (61%) disse que não cultivam o ópio porque é proibido. Na região sudoeste, onde a presença do governo central é mais fraca, apenas 39% dos agricultores citaram a proibição como razão para não cultivar a papoula.

Há uma forte correlação entre a insurgência e o cultivo do ópio. O relatório do UNODC mostra que quase 80% das aldeias com condições precárias de segurança sofreram como o aumento do cultivo da papoula, enquanto em apenas 7% das aldeias que não são afetadas pela violência tiveram aumento no cultivo. "Essa é mais uma prova da estreita relação entre o índice de cultivo o índice de insegurança", disse Costa.

"A mensagem é clara: para reduzir ainda mais a principal fonte de droga mais mortífera do mundo, é preciso haver mais segurança, mais desenvolvimento e mais governança no Afeganistão", disse o diretor do UNODC. "As autoridades afegãs devem traçar uma estratégia para o combate às drogas e o resto do mundo tem total interesse em que o país tenha sucesso nessa tarefa", disse Costa.

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